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Niterói, Rio de Janeiro, Brazil
Estudante, professor e agente da História de seu tempo. Deformado pela Universidade Federal Fluminense, pela capacidade de resiliência em torno de causas justas, pela coragem e pela sinceridade. Dinâmico, espiritualista, intuitivo, libertário, imprevisível. A leitura de seus textos é recomendada a quem faz uso de covardias.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Chegando na UFF - preliminares de uma loucura anunciada

A pedido de alguns amigos, vou começar a abordar minha trajetória na UFF. Existe muita coisa antes disso que explica o que rolou por lá. Vou subverter a ordem cronológica dos acontecimentos livremente, estabelecendo alguns nexos com momentos outros no corpo dos relatos. Virou estilo literário. O meu retorno a Niterói e o reencontro com os amigos da universidade, tanto pelo facebook, quanto pela realidade do mundo do concreto, do real, do bruto e do escalafobético, explicam esta necessidade.


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Novembro de 1998. Começo do segundo semestre na Faculdade de História, ICHF. Após incríveis e longos meses de greve, uma das maiores dos tempos de FHC, chegam à calourada respectiva Fernando Calado, Rodrigo Santarossa (popularmente conhecido como "Visgo"), Raquel Gabriel, Ilanajara, Gabriel "Pena Branca", Ypuan, Léo, Alessandro (ainda militar), dentre outros. Era a turma noturna de 2/98. Inesquecíveis aqueles primeiros contatos com nossos ma-ra-vi-lho-sos professores e colegas veteranos.

Já conhecia o Leonardo Coreicha, na época chamado de "Lobinho". Assim como o companheiro Josimar (da Geografia, atual PSOL) e o Alexandre "Xamã". Todos marxistas-leninistas do PT. Eu havia me filiado ao PT em 1996, ainda com 16 anos via movimento comunitário de bairro. Peguei a rebarba decadente do ideário de formação política que os núcleos de base do partido ainda se preocupavam em proporcionar. Através da militância na associação de moradores do Barreto, Zona Norte de Niterói, ingressei no núcleo petista do Barreto. Minha ficha de filiação fora assinada pelo Rodrigo Neves, imagine! Que medo!


Em 1998, eu estava com 18 anos e decidido a trocar a FFP-UERJ, meu primeiro semestre de fato numa faculdade de História, pela outra matrícula em que estava classificado, a matrícula da UFF. Havia passado nas duas. Fui para a UFF porque os professores da UERJ idolatravam os figurões da História da cosa nostra. Eu não os conhecia mas sabia da fama nacional que a área nutria - e ainda nutre - pela turma do Gragoatá. Fetiche da mercadoria. Eu queria estudar com o tal de Ronaldo Vainfas, o tal de Daniel Aarão Reis Filho, o tal do Deus Ciro, enfim, os tais.


Quando entrei na UFF, já estava em profundo rompimento com o PT, sobretudo após o episódio emblemático da destituição imposta pela Direção Nacional do partido (leia-se José Dirceu) de Vladimir Palmeira como candidato legítimo das bases para governador. Era uma candidatura escolhida pelos filiados e substituída, a toque de caixa, pela obrigação de se apoiar Garotinho para governador, tendo como vice Dona Benedita da Silva. Uma composição inesquecível em troca do apoio de Brizola na chapa, como vice-presidente, do então candidato Lula.

Deus que me livre! 
(pausa para respirar...)


Pois então: meus fantásticos veteranos petistas Léo Lobinho, Xamã e Josimar sabiam do meu grau de insatisfação com o PT na época. O que eles não imaginavam é que o meu encontro com Alex Bafo, Paulo (gal)Inácio, Dr. Wolverine, Roberto Martins, Janis Joplin, Raquel Roll (ou Raquel Pedacinho do Céu), a outra Raquel - ou Raquel do Paulo Inácio -, China (o rapaz da Colina), Rafael Boccanera ou "Bob Pai", Casé, Denis Dopping, Pequeno, Patrícia Solar, Marco Sparano, Mineiro, Roger Hitz, dentre outros perigosos ainda soltos por aí, afetaria significativamente meus neurônios, desmanchando axiomas sólidos, e fazendo do que me restava de socialista bolchevique (quase nada) apenas fumaça na Avenida Bob Marley.

Como desprezar figuras como estas? O que dizer de Zé Leonardo e Fortunato, os maoístas suspeitos que inventaram o nome da primeira gestão do CA em que participei - "A História Nasce do Fuzil"? Lembro-me de Zé Leonardo tentando me vender o livro de Mao Tsé-Tung escondido, cheio de paranoia da vigilância militar que poderia estar por ali, à espreita, pronta para um bote anacrônico nos comunas!? 

Fato é que a gestão do CA, a primeira em que participei, tinha a capacidade de reunir de maoístas a libertários mas sua gênese havia sido um vazio político que tentávamos, a todo custo, preencher. Eu era calouro e lembro bem o que tornou a chapa motivo de exclusão de alguns: menos pelo nome, alvo de muitas chacotas e críticas, e mais pela convicção em manifestar repúdio ao governo de Jorge Roberto Silveira (eterno prefeito de Niterói)! Como pode, né?

Lembro-me de Tiago CONEHI - que figura! - e Manuela Bretas bastante incomodados com esta afirmação. Hoje, quem diria, quase uma unanimidade entre os niteroienses de mínimo senso e nenhum cargo municipal.

Mas o encontro com os professores mais esquisitos que já tinha visto, ah, isto não tinha preço! O que era Marcos Alvito, ainda professor de História Antiga, dizer textualmente ao colega Ypuan, calouro da minha turma, diante de seu primeiro seminário na universidade: 

- Meu filho, vou te dizer a verdade. Larga esta profissão de historiador. Não é a sua. Infelizmente, você está no lugar errado.

Ou o Guilherme Pereira das Neves, professor de Teoria, Métodos e Historiografia, entre um Marlboro e outro, ainda na minha turma de calouro: 

- Na minha opinião, os alunos da noite e os alunos que passam para o segundo semestre, estes reclassificados, estão numa condição inferior de aprendizado. O bom historiador só fica bom mesmo se estudar o dia inteiro e quando tiver lá na casa duns sessenta anos ou mais.

Ou o Prof. Ronaldo Vainfas, numa reunião de departamento. Eu integrava a Comissão de Comunicação do CA. Esta frase foi publicada no Jornal do CA de História de março de 1999:

- Não devia existir este negócio de recurso de aluno. A gente fica muito exposto!


Ou a pérola do Prof. Daniel Aarão Reis Filho, tão famoso, sem comentários:

- Eu acho que aluno da graduação não deveria ter direito a voto [na reunião departamental]. Aluno da graduação ainda não pensa. 

Pérolas como estas levaram a uma classificação simplista e obviamente provocadora em uma edição clássica do Jornal do CA, em que os nossos professores eram classificados, conforme suas respectivas posições políticas, como "conservadores", "de centro" ou "progressistas". Para desespero de alguns.

Inaugurava assim uma relação extremamente afetuosa com os meus mestres. Em 1999, fui eleito membro do conselho universitário; em 2000, participei da construção de duas semanas culturais em referência aos 500 anos de Brasil ("500 anos de Poliesculhambose, a nossa versão sobre os 500 anos de Brasil"); no mesmo ano, ocupamos a parte lateral do Bandejão com a polêmica "Vigília Em Defesa da Universidade Popular", tomamos o gabinete do reitor em protesto contra a situação caótica em que vivíamos na universidade em tempos de FHC no poder e ainda desenvolvemos a primeira (e única) Oficina de Libertinagem no Encontro Nacional de Estudantes de Ciências Sociais no bloco C, do Instituto de Letras. Agradecimentos a Louise pela lembrança!

Em 2001, como era de se esperar, fui convidado a me retirar com um cancelamento de matrícula injustificável. Não tinha reprovação continuada da mesma disciplina nem havia abandonado o curso. Através de recurso interposto na PROAC, voltei. Como consta na autorização dada pelo então coordenador de graduação da História, Prof. Paulo Knauss, o qual tive de concordar para poder retornar:

- O estudante se compromete a cumprir rigorosamente o seu planejamento de estudos, com plena satisfação do exigido por seus professores no estrito âmbito das competências inerentes à plena formação do historiador. 

Ah, bom. Entendi. 
Acabou a graça.
Acabei preferindo fazer rádio comunitária.
       



       

       

 
 

   
         

5 comentários:

  1. Calado, não tem como não lembrar das músicas, tanto de nossa vigília no bandejão quanto de nossa "ocupação" da REItoria:

    Ocupação:

    Companheiro me escute por favor
    Eu vou cantar
    O pagode do REItor
    Têm gabinete, com banheira cor-de-rosa
    Deitado lendo Playboy
    Ai que coisa mais gostosa
    Tem cafezinho, vinho e outras mordomias
    Assim eu vou querer morar na REItoria

    E aquela sua camisa com nosso magnífico Cícero doidão de sunga era impagável...

    A da Vigília (onde andarão as fotos da Raquel Roll?)virou um clássico do cancioneiro Gragoataense:

    O estudante tá com raiva do REItor
    Mas eu já sei que ele tem razão
    O estudante tá querendo comer
    E o REItor não quer fazer
    Não quer dar o bandejão

    O estudante tá com raiva do REItor
    REItor Paulo Renato lhe devora
    E o estudante quer comer no bandejão
    Todo dia chora, todo dia chora

    Um dia dá, um dia dá
    Um dia dá senão nós vamos ocupar

    Quero comer, quero comer
    Quero comer no bandejão quero comer.

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  2. eu tenho essas fotos escaneadas, as originais eu devolvi pro DA de ciências sociais a alguns anos, e tenho mais algumas q eu tirei na época, que estão um pouco escuras, em breve posto no facebook.

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  3. É rapaz, mas lembro de você antes do PT, nas minhas adanças com a galera do Barreto e de Tenente Jardim (Rodrigo "Caverna"; Rodrigo "Branco"; Igor; Juarez; etc.). Antes mesmo de me filiar ao PT ou de me tornar Marxista-Lenista. Nesta época me dizia simplesmente "Raulseixista". Nasci malucada, mas parti para o materialismo dialéticos (socialismo científico ou o que você preferir chamar, e nunca fui chegado em fumaça, prefiro as louras ou negras, quentes ou geladas, rsrs).
    Me filei no PT no mesmo ano que você, prefiri a UFF a UERJ pelos mesmos motivos.
    Acho que tivemos trajetórias parecida, mas sou um tanto mais "Nerd" e mais pragmático (como diria o Reginaldo). Passei rápido pela UFF (exatos 4 anos)e fui pro SEPE ( mais 4 anos); ainda continuo marxista mais não filiado a qualquer organização (lecionando e mestrando em Educação).
    Mas, sem encher seu blog com minhas palavras panfletárias, Saudades companheiro...
    Saudações Comunistas
    Leonardo Coreicha

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  4. Sensacional!! Pena que hj só tem reaça no curso. Bons tempos pelo jeito. rs

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  5. Dá-lhe Nando!!! Verdadeiro, sempre!!!! Saudades até nosso reencontro!!!

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