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Niterói, Rio de Janeiro, Brazil
Estudante, professor e agente da História de seu tempo. Deformado pela Universidade Federal Fluminense, pela capacidade de resiliência em torno de causas justas, pela coragem e pela sinceridade. Dinâmico, espiritualista, intuitivo, libertário, imprevisível. A leitura de seus textos é recomendada a quem faz uso de covardias.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Poliesculhambose - continuação I

A programação oficial da primeira Semana Cultural "500 Anos de Poliesculhambose - a nossa versão sobre os 500 anos de Brasil", realizada em janeiro/2000. Confira abaixo:


Quarta-feira, 05/01/2000/XX?
13h - Exibição de desenho animado: "Yellow Submarine"
15h - Pintura Livre do chão do ICHF
16h - Escambo
18h - Exibição de curtas: "Gentileza", "Ilha das Flores" e "Chaplin"
19h - Palestra: "Unidade na Diversidade" com um palestrante da Comunidade Fé Bahá´i.
20h - Exposição do artista plástico Darcilei de Oliveira


Quinta-feira, 06/01/2000/XX?
13h - Filme: "Bye, Bye Brasil"
16h - Filme: "Alma Corsária"
18h - Mestre Azulão (repentista)


Sexta-feira, 07/01/2000/XX?
13h - Filme: "Easy Rider"
16h - Filme: "Queimando Tudo"
18h - Filme: "Hair"
21h - Dinâmica de grupo com a comunidade Bahá´i
21h30 - Palco Livre com os grandes e admiráveis músicos do ICHF e você, se também quiser fazer o seu som.


Segunda-feira, 10/01/2000/XX?
13h - Filme: "Leolo"
14h30 - Palco Livre (Teatro e Coreografias): 
             I) "O Analfabeto Político", de Bertold Brecht, com o grupo do Centro Cultural Félix Guatarri (Visconde de Mauá);
             II) Ballet com Raquel Roll (Raquel Pedacinho do Céu);
             III) Interpretação de Músicas do Raul Seixas com Calado e Nadja.
18h - Exposição do Museu da Cachaça de Paty do Alferes
19h - Palestra: "Revoluções Moleculares", com palestrante do Centro Cultural Félix Guatarri.
21h - Dinâmica de grupo
21h30 - Chorinho


Terça-feira, 11/01/2000/XX?
13h - Filme: "Ed Wood"
16h - Filme: "Carne Trêmula"
18h - Teatro de Bonecos com Fernanda Machado (História-UFF) e Cláudio Salles (Movimento Pop Goiaba)


Quarta-feira, 12/01/2000/XX?
18h - Apresentação do Movimento Arte, Resistência e Oficina (Mareô) 
19h30 - Roda de conversa com o poeta Deley de Acari


Quinta-feira, 13/01/2000/XX?
18h - Exposição da fotógrafa Luciana Martins


Sexta-feira, 14/01/2000/XX?
Continuação da exposição fotográfica de Luciana Martins
18h - Folia de Reis de Belford Roxo (RJ)


(reproduzido do folder original)


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No começo do folder, vinha o slogan cunhado por André Meirelles, saudoso amigo, baseado em Pessoa: "... porque viver é preciso, sobreviver não!!"


Ao final, a frase que nos inspirou muito (além, é claro, da música "Os alquimistas estão chegando", de Jorge Benjor):  "... quem fala em revolução sem mudar o cotidiano traz na boca um cadáver."


Para desespero dos nossos professores, o som do CA de História era colocado no Tablado Leandro Konder (bloco O do ICHF), de onde o Calado falava sem parar, divulgando a programação e chamando as pessoas entre músicas tocadas pelo ainda projeto de DJ Bob Pai. 


Jamaica, Patrícia Solar, Roger Hitz, Gabrimilo, Claudio Salles, Guto Beluco, entre outros, eram músicos fáceis de serem encontrados nos palcos livres, que continuaram acontecendo mesmo depois da Poliesculhambose I e II por algum tempo. Célebres poetas como Cezinha e Lupércio também deram suas notáveis contribuições. Lembro-me de parte do clássico de Cezinha: "ainda que eu comesse do meu cocô e tomasse do meu xixi, jamais deixaria de Ser o Ser que eu mesmo construí". Ou ainda o poeta Lupércio: "Camomila na pupila para dourar a íris", "há quem diga que maluco é quem rasga dinheiro, pois eu rasgo esta merda que me envelhece e me aprisiona", rasgando em seguida, diante do público, uma nota de cinquenta reais.


Por muitas vezes, eu, Rodrigo e Bob Pai dormimos sobre o palco do tablado para esperar o ICHF abrir suas portas e assim guardar o som do CA de História em local seguro: a sala do DA de Ciências Sociais.


Quem não se lembra, já durante a segunda semana  Poliesculhambose (abril/2000), da Professora Tania Stolze (Antropologia) abrindo mão de suas aulas por uma semana para receber em sua casa, acompanhar no ICHF e traduzir cada palavra dos índios Juruna, uma família de visitantes convidados, que pintavam os corpos das pessoas, mostravam seus artesanatos e conversavam a respeito de seus costumes numa roda informal no Tablado Leandro Konder? 


E o surto do Professor Luís Carlos Soares, o "Franja", expulsando-os da Galeria do ICHF aos berros? Quando eu o interpelei questionando que não tínhamos a mesma educação dispensada aos convidados estrangeiros da universidade que vinham palestrar, Franja teve um surto e gritava louco "Desculpa! Desculpa! Eu errei!", saindo em seguida.


Alguém se lembra da quantidade de papel higiênico pendurada nos dois blocos - N e O - com a faixa na frente: "a universidade pública não é privada"?


Outro fato incomparável: quando o estudante da psicologia narrou que um policial à paisana estava ameaçando dar tiros nele na orla do campus. No microfone, solicitei ao diretor do ICHF, na época o Professor Novaes, para que descesse de seu gabinete e fosse conversar com o louco que aparentemente era um sujeito qualquer pescando com sua família. Novaes desceu junto com funcionários, questionou o sujeito que argumentava ter feito isso porque viu o aluno fumando maconha no campus. "Isso não justifica que pessoas armadas entrem no campus de uma universidade federal e fiquem ameaçando estudantes aqui dentro. O senhor, por favor, se retire imediatamente!" 


Sob aplausos de vários estudantes e funcionários, o diretor pôs pra correr o policial militar que ainda saiu perseguido com seu fusquinha por vários cachorros do campus, numa das cenas mais hilárias que já vivenciei na UFF.       

  
  



sábado, 23 de abril de 2011

500 anos de Poliesculhambose - a nossa versão sobre os 500 anos de Brasil

Em janeiro, rolou a primeira. Em abril de 2000, a segunda. Ambas as Semanas Culturais "500 Anos de Poliesculhambose - a nossa versão sobre os 500 anos de Brasil" foram organizadas por um coletivo de estudantes de História, Ciências Sociais e Psicologia da UFF. Aconteceram no espaço do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da mesma universidade. Seu pontapé inicial: a preocupação que tínhamos com uma crescente e absurda propaganda global (com o apoio oficial do governo FHC) que exaltava, através do antigo calendário da historiografia oficial, supostas glórias brasileiras de um evento forjado pelos colonizadores portugueses para a nossa exploração. 


O "descobrimento" do Brasil, assim louvado em livros didáticos de História que formaram gerações, fora interpretado até meados dos anos 80 como um evento digno de constar em nosso calendário oficial de comemorações cívicas. A data de 22 de abril de 1500, suposto momento histórico inusitado, cercado de controvérsias, da chegada de Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro, na Bahia, por obra e acaso de correntes marítimas desconhecidas no Oceano Atlântico que desviaram o comandante e suas caravelas do destino inicial (o caminho das Índias pelo contorno do continente africano), já não era fato tão mais "inusitado" assim pois a comunidade dos historiadores brasileiros, mediante documentos históricos contundentes, havia se dado por um consenso contrário desde os anos 80 do século XX. 


Não obstante as provas e os relatos de inspeções espanholas e portuguesas anteriores à data de 22 de abril de 1500 pelo que seria, mais tarde, o território brasileiro, os estudantes da UFF do ano 2000 não viam motivos para se celebrar com requintes ufanistas uma data que mais confundia interesses da nossa antiga metrópole em nos colonizar, dominar e extorquir riquezas e trabalho humano, que propriamente motivação para inflamar um sentimento de patriotismo. Mesmo assim, percebiam os estudantes que era preciso uma resposta à altura, algo que marcasse profundamente o descontentamento de quem estuda a História e as relações humanas na sociedade brasileira com o trato que a Rede Globo e o Governo Federal ofereciam ao tema. 


Afinal de contas, como aguentar relógios enormes fincados nas praias e centros de grande densidade populacional do país com estética de mau gosto e propósito tão subalterno? Eles portavam cronômetros regressivos que calculavam, dia por dia, quanto faltava até que se chegasse o fatídico 22 de abril de 2000. Segundo o espírito da comemoração cívica evocado, alcançaríamos um marco civilizatório por conta do aniversário redondo de "500 anos de Brasil". 


Como assim!!? - reagíamos. Como comemorar uma data que não corresponde ao aniversário do país (somente compreendido desta maneira, como Estado independente perante o mundo, a partir de 07 de setembro de 1822), que não foi verídica o quanto propagaram (visto que não foi inusitada, imprevista, por acaso: navegações anteriores registraram a existência do território que Cabral só veio mais tarde a reafirmar posse, a assumi-la, mediante traçado do Tratado de Tordesilhas, ao mundo) e cujo efeito não foi tão louvável assim aos povos nativos (os indígenas escravizados, dizimados, aculturados) e aos povos forçados à migração (como os africanos escravizados). Humanitariamente falando, não foi louvável nem mesmo para Portugal.


Se pudéssemos comemorar algo relativo à data, delimitaríamos o produto da miscigenação brasileira, com a grande mistura de culturas que constituíram nossa sociedade. Mesmo assim, em 2000, ainda entendíamos que estávamos muito desiguais nas oportunidades, muito subalternos às novas metrópoles que surgiram no tempo e com desafios a superar que exigiam de nós um olhar menos elitista e mais popular acerca de diversos aspectos. 


Foi assim que produzimos a Poliesculhambose. O formato foi inspirado em iniciativas estudantis anteriores do próprio ICHF-UFF, como a Semana Gaia no Campus, realizada nos anos 90. Amigos veteranos de viés libertário sempre relatavam iniciativas de forte impacto cultural, muito envolvimento artístico e objetivo revolucionário anti-capitalista. Sabe-se que os libertários costumam ser criativos, ousados, culturalmente engajados e um tanto o quanto imprevisíveis. O movimento estudantil da UFF nesta época (anos 90 e início dos anos 2000) era fortemente influenciado por esta tendência. Na verdade, tendência esta que construiria influência nas concepções ideológicas de muita gente boa do PT e do PSOL de hoje. Mas este é assunto para muitos outros artigos.


O termo "Poliesculhambose" não foi copiado de lugar nenhum. Nossa ideia nasceu de juntar à palavra "ESCULHAMBAÇÃO", ou seja, o sentido histórico da construção civilizatória do Brasil, o prefixo "POLI", atribuído à pluralidade, e o sufixo "OSE", uma referência científica da Química sempre presente em termos como "osmose", "fimose", "necrose" etc. Concebi o conceito "500 anos de Poliesculhambose" deitado no gramado do campus, exatamente ao lado do bloco N, após uma boa contemplação do pôr-do-sol em nossa orla. 


Na semana cultural, preservamos a variedade da programação. Da Fé Ba´hai com dinâmicas motivadoras até artistas populares que nunca tinham entrado na universidade. A partir do mote da nossa versão para os 500 anos de Brasil, de tudo um pouco foi trabalhado. A organização do evento decidiu acampar no local de produção e o que era para ser uma semana cultural em janeiro de 2000 acabou levando duas semanas de cada mês (a primeira versão em janeiro; a segunda, em abril). 


Uma das características libertárias mais marcantes chegou a ser aceita pela burocracia da UFF. Em cada documento oficial que solicitava autorização de espaços físicos e equipamentos, assinávamos "Coletivo de Estudantes de História, Ciências Sociais e Psicologia da UFF". Sem um "cabeça" para dar a cara a tapa, uma liderança que assumisse sozinha diversos riscos ao patrimônio público, nada era autorizado. 


No nosso caso, foi. Simplesmente passou. Ninguém pagou propina por isso.


Num dos episódios mais marcantes, quando grafiteiros expuseram suas interpretações sobre o tema nas pilastras do bloco O e o ICHF amanheceu grafitado com alcunhas anti-capitalistas, uma autoridade universitária me procurou para tirar satisfações: "foi danificado o cabo de telefonia da caixa grafitada no térreo. Quem vai pagar?" Eu lhe disse: "olha, a caixa não devia estar sem porta. Já estava sem porta há muito tempo. Essas coisas é que danificam o patrimônio da universidade, a arte não!"


LEIA A CONTINUAÇÃO NO PRÓXIMO POST    


                      

sábado, 16 de abril de 2011

Oficina de Libertinagem, que porra é essa!?

Eu sei o quanto parece ínfimo, desprezível, desnecessário aos olhos dos companheiros marxistas. Também sei que ser libertário não é ser unica e exclusivamente da tendência individualista. Sou mais coletivista e espiritualista. Compreendo meus companheiros anarco-individualistas quando teciam e tecem críticas à opressão do Ser frente a reprodução de propostas coletivistas, como o caso da experiência soviética, em nossos tempos. Mas o fato é que ser individualista, na minha humilde concepção ideológica, é estar mais próximo da ideologia capitalista do que do socialismo ou do anarquismo.
A libertação do Ser individual é tarefa da luta anti-capitalista também, uma vez que o sistema dos patrões reduz o Ser à opressão do mercado e dos moralismos religiosos, grandes sustentadores de coletivos homogenizantes, que muitas vezes reafirmam a subserviência do homem pelo homem como identidade natural.

Como espiritualista, defendo que só construiremos coletivos fortes quando entendermos alguns pressupostos de derrotas historicamente experimentadas. Um deles reside no fato de que movimento algum prospera ancorado em lideranças estanques com seguidores fiéis. Isto porque a identificação de movimentos que dependem de líderes para existirem facilita a perseguição pelos capitalistas, que prontamente desarticulam ou destroem os movimentos sociais mais facilmente. Para que não haja "seguidores fiéis" e sim críticos participantes, temos que fortalecer habilidades e diferenças individuais sempre em busca de coletividades que não são eternas nem no tempo nem no espaço. 

Coletividades que possam se insurgir por causas comuns, se dissolverem e se estabelecerem nas circunstâncias históricas colocadas inflamam revoluções significativas com alta capacidade de projetarem avanços num mundo que não é dos revolucionários mas que depende deles para se reformular sempre. Nada será alcançado sem que pensemos na independência do Ser em suas particularidades assim como nenhum indivíduo sozinho, por mais nobres que sejam seus argumentos,  prosperará qualquer luta revolucionária anti-capitalista se for incapaz de se organizar e de se entender como coletivo, ainda que sua participação na coletividade seja pontual ou orgânica. Para tanto, não podemos sustentar a insegurança individualista dos espíritos: ela interessa aos manipuladores. 

Militantes fortes precisam, antes de acreditarem no que projetam para o mundo, de acreditarem na capacidade de superação de si próprios diante das condições materiais de existência, diante de toda e qualquer opressão que corrobore com a naturalização daquilo é construção cultural. De outra maneira, que farão com suas obsessões, seus traumas, suas fraquezas não resolvidas quando tiverem de combater um inimigo tão ardiloso quanto o capital?   

Foi com este espírito que desenvolvemos a Oficina de Libertinagem no Encontro Nacional de Estudantes de Ciências Sociais, realizado na UFF em 2001. "Libertinagem!?", pensaram e ainda pensam alguns com ar de reprovação. "Isto é puro hedonismo!", como muitos rotularam e ainda rotulam. "A universidade não é espaço para orgias e orgias não são revolucionárias", como também já ouvi de alguns moralmente resignados. É a carga da significação histórica do termo "libertinagem" (cunhada pelos cristãos no Ocidente como algo a ser repudiado ou enquadrado, incrivelmente como toda e qualquer forma de prazer e de tesão. Por quer será?)  que está preconceituosamente julgada e condenada. E não a proposta da oficina em si. Quem participou da "Oficina de Libertinagem" naquela época vivenciou aspectos inspirados na somaterapia, na física, na psicologia, no espiritualismo e no socialismo libertário, na verdade um esforço de interdisciplinariedade em busca do fortalecimento espiritual dos Seres a se coletivizar.

A dinâmica se deu assim (vai visualizando): com muito batuque, algumas pessoas recebiam em uma sala escura do prédio do Instituto de Letras os participantes. Para tal, a oficina foi programada para acontecer à noite, mais precisamente à meia-noite. Pediu-se à organização do evento que fornecesse o batuque e velas. Eu fiquei como "palestrante libertino" orientando que as pessoas fizessem um círculo em pé. Aqueles que optassem pelo voyeurismo, poderiam sentar-se em cadeiras próximas. Em tom de celebração religiosa, pedia a Dionisio (ora Dionisio, ora Baco) que intercedesse por todos que ali estavam em busca da superação de suas limitações sensitivas e orgásmicas. Até então, todos estavam convictos de que rolaria uma suruba coletiva, o que não era o intuito mas apenas a peça publicitária que atraiu tantos incautos.

Enquanto celebrava, pedia que cada indivíduo acendesse sua vela e circundasse o corpo do indivíduo ao lado (ou em qualquer posição) com o objeto aceso. Certamente alguns gritos foram ouvidos, pois o derretimento das velas fazia-as pingar sobre a pele do outro. 

Após a passagem por todos, ao som de batuques que mais lembravam os do candomblé ou da umbanda, pedi que pusessem seus corpos deitados em círculo com as respectivas velas aos seus pés.

A cada um foi pedido que desenvolvesse, passo a passo, cada um dos cinco sentidos físicos na análise dos corpos em questão. Visão de todo o corpo do outro, audição de todo o corpo alheio, olfato de cada parte do corpo alheio, e, por último, tato, utilizando-se de todo o próprio corpo sobre o corpo alheio, e paladar, levando a língua até qualquer parte. Um detalhe: todos continuaram vestidos durante esta primeira etapa. Eu dizia:

- Todos estão livres para sentir o corpo do outro e o próprio corpo como nunca sentiram. Antes nos era permitido olhar de relance para o conhecido ou para o desconhecido. Nossa visão, apenas um dos nossos sentidos físicos, era a única permitida nesta sociedade moralmente enquadrada. Permitida entre aspas porque temida. Com a possibilidade de muitas reações adversas, treinados e acostumados a reagir diante de toda e qualquer insinuação sexual, nos distanciamos cada vez mais. Por isso, somos a única espécie que aprendeu a elaborar, a falsear, a introjetar e a projetar perversões que vão muito além da sexualidade mas que começam no instinto animal domesticado. Precisamos superar estas dificuldades de relacionamento para que possamos promover revoluções concretas.

É claro que muita gente boa se empolgou. Para desespero do meu ex, que estava presente e era aluno da Psicologia, mas que temia, logo no início do nosso relacionamento, que eu descambasse para a poligamia, para a orgia ou algo do gênero na sua cara. Alguns tiraram partes da roupa alegando "furor uterino", "calor", "quentura"... outros, da ala dos voyeures, decidiram se envolver também. Muita gente boa acabou arrumando uma pegação ali depois da oficina, outros fortaleceram seus próprios amores e suas próprias paixões em desenrolos memoráveis.

Na segunda etapa da oficina, foi sugerido que cada indivíduo dissesse e mostrasse abertamente ao grupo qual parte do seu próprio corpo (e qual a parte do corpo do outro) lhe trazia mais felicidade. E qual, em mesma proporção, lhe trazia mais angústia e desespero. O sujeito ainda deveria explicar por quê. Lembro-me de revelações incríveis, de relatos muito loucos, de pessoas completamente excitadas, confessando coisas impressionantes.

A oficina foi feita sem planejamento algum. Confesso que só pedi aos organizadores as velas, até mesmo o batuque foi improvisado. Não tinha a menor ideia do que seria feito. Lembrei-me do livro "A Profecia Celestina", uma espécie de literatura da Nova Era do psicólogo americano James Redfield (ed. Objetiva), que trata de supostas visões reveladas ao próprio por uma passagem de sua vida pelo território dos incas no Peru, da somaterapia de Roberto Freire, da única matéria fixada em minha cabeça após tantos anos de estudo da Física no ensino fundamental e no ensino médio, da ideologia libertária e de muitas vivências que tive como homossexual assumido na sociedade brasileira. 

Tem coisas que acontecem na nossa vida, de razões muito além da nossa própria capacidade científica de discernimento, que misturam, com requintes de surrealismo, simplicidade e boas intenções, os temperos dos processos revolucionários semeados pelos ingênuos libertários. Que de "ingênuos", talvez, não tenham nada.             

     

quarta-feira, 13 de abril de 2011

As músicas que eram cantadas na Vigília

A "Vigília dos Estudantes Em Defesa da Universidade Popular" foi uma ocupação do gramado ao lado do Bandejão (em frente à creche) no Campus do Gragoatá, da Universidade Federal Fluminense, em 2000. 

Já há algum tempo, os estudantes do ICHF promoviam no Tablado Leandro Konder (térreo do bloco O) uma série de apresentações artísticas kaosísticas-revolucionárias. O evento era conhecido como "Palco Livre". O sujeito que desejasse cantar, tocar, declamar, desenvolver performances teatrais, dentre outros, tinha ali um palco disponível com o equipamento de som do CA de História. Muitos artistas (como o DJ Bob Pai, a DJ Tataogan, o Jamaica, dentre outros) se revelaram ali. Para desespero de nossos professores.

No dia em que resolvemos promover a ocupação da "Vigília Em Defesa da Universidade Popular", aproveitamo-nos taticamente de um hábito que era a realização destes palcos livres no ICHF para instalarmos nossas barracas no gramado ao lado do Bandejão. E de lá não mais sair até que nossa principal reivindicação acontecesse. 

No governo Collor, os estudantes da UFF perderam a janta no Bandejão. A UFF ficara quase um ano em greve, sem a mínima condição de funcionamento. Entre fechamentos e retornos do direito ao almoço nos governos seguintes, perdemos o suco e a sobremesa. No governo FHC, o almoço havia sido cortado por total falta de condições operacionais do nosso restaurante universitário. 

Foi quando decidimos burlar as decisões soberanas de uma assembleia geral dos estudantes realizada no próprio bandejão. Os companheiros politico-partidários ganharam no voto que não seria feita nenhuma ocupação. Insatisfeitos com a decisão coletiva, a "malucada" - que era como nos chamávamos os companheiros politico-partidários - decidiu aproveitar um palco livre no ICHF e instalar ao lado do bandejão as barracas necessárias, faixas de protesto, uma cozinha improvisada, e de lá sair apenas dois meses depois.

Durante o período da vigília, fomos acusados de muitas coisas que rolaram e outras que não. Lembro-me que, com o objetivo de nos desmoralizar publicamente, acusaram-nos de jogar futebol pelado no campus, o que realmente não rolou. Lembro-me da "Tenda dos Prazeres", a barraca armada por um de nossos companheiros que ficava disponível para armazenamento de mantimentos y otras cositas más. Lembro-me do apoio do SINTUFF em nossa alimentação, da perseguição dos cachorros do campus (um deles até mordeu o China, o que levou o cachorro à morte por ingestão de altos níveis de toxinas), dos desafios cotidianos para se tomar banho, fazer reuniões e disciplinar o indisciplinável.

O jornal O GLOBO da época, mediante a nossa recusa em dar entrevistas para a "imprensa burguesa" (já que distorciam tudo mesmo), fotografou nossas barracas e noticiou como se fizéssemos turismo no campus: "venha curtir as férias na UFF - estudantes acampam na universidade e curtem o espaço privilegiado do Campus do Gragoatá".   

Muito criativo, o grupo fazia intervenções de protesto nas assembleias dos professores e em cursos da UFF que se recusavam a paralisar suas atividades. Sim, porque nós construímos a greve de 2000 com direito a surto do Prof. Marcos Alvito e seu pandeiro, apoio da Prof. Magali Engel, aversão de colegas vinculados a partidos políticos e crise total no departamento de História. Recordo da célebre visitinha ao Instituto de Física em que o professor, em sala de aula às oito da manhã, surtou com a nossa presença e nos expulsou de lá sob a forte acusação de que éramos bêbados fascistas. 

O que fazíamos? Cantávamos e batucávamos músicas próprias, feitas especialmente para o momento que vivenciávamos. Cappelli me enviou duas letras que foram importantíssimas para o nosso movimento na época: a primeira se refere ao que encontramos quando ocupamos o gabinete do reitor; a segunda, era o hino da vigília. Ambas estão reproduzidas abaixo:

Ocupação da Reitoria

Companheiro me escute por favor
Eu vou cantar
O pagode do REItor
Têm gabinete, com banheira cor-de-rosa
Deitado lendo Playboy
Ai que coisa mais gostosa
Tem cafezinho, vinho e outras mordomias
Assim eu vou querer morar na REItoria

A da Vigília virou um clássico do cancioneiro Gragoataense:


O estudante tá com raiva do REItor
Mas eu já sei que ele tem razão
O estudante tá querendo comer
E o REItor não quer fazer
Não quer dar o bandejão

O estudante tá com raiva do REItor
REItor Paulo Renato lhe devora
E o estudante quer comer no bandejão
Todo dia chora, todo dia chora

Um dia dá, um dia dá
Um dia dá senão nós vamos ocupar

Quero comer, quero comer
Quero comer no bandejão quero comer.


Tempos depois, a vitória: o bandejão voltou a funcionar, servindo de novo almoço e janta a R$0,70 (setenta centavos), preço que até hoje (2011) é mantido. 

Além desta, creditada a todo o movimento estudantil da época, também conseguimos que o então diretor do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), Dr. Francisco Gonzaga, fosse afastado e, em seu lugar, fosse instaurada uma comissão de professores, alunos e funcionários para administrar o que estava acontecendo no HUAP: enquanto o povo agonizava na falta de estrutura do hospital público que tanto serve a 11 municípios fluminenses, o ex-diretor comprava medicamentos como a tradicional Novalgina (hoje Dipirona) a R$ 700,00 (setecentos reais!!!) a caixa. Os alunos também conseguiram, via proposta apresentada no Conselho Universitário por este que, na época, era representante estudantil, ampliar o horário de permanência dos estudantes no campus (das 22h para 0h), o que extra-oficialmente já fazíamos bem na camaradagem com a empresa terceirizada de segurança.     

Cappelli, adorei a colaboração!

 

       

terça-feira, 12 de abril de 2011

Chegando na UFF - preliminares de uma loucura anunciada

A pedido de alguns amigos, vou começar a abordar minha trajetória na UFF. Existe muita coisa antes disso que explica o que rolou por lá. Vou subverter a ordem cronológica dos acontecimentos livremente, estabelecendo alguns nexos com momentos outros no corpo dos relatos. Virou estilo literário. O meu retorno a Niterói e o reencontro com os amigos da universidade, tanto pelo facebook, quanto pela realidade do mundo do concreto, do real, do bruto e do escalafobético, explicam esta necessidade.


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Novembro de 1998. Começo do segundo semestre na Faculdade de História, ICHF. Após incríveis e longos meses de greve, uma das maiores dos tempos de FHC, chegam à calourada respectiva Fernando Calado, Rodrigo Santarossa (popularmente conhecido como "Visgo"), Raquel Gabriel, Ilanajara, Gabriel "Pena Branca", Ypuan, Léo, Alessandro (ainda militar), dentre outros. Era a turma noturna de 2/98. Inesquecíveis aqueles primeiros contatos com nossos ma-ra-vi-lho-sos professores e colegas veteranos.

Já conhecia o Leonardo Coreicha, na época chamado de "Lobinho". Assim como o companheiro Josimar (da Geografia, atual PSOL) e o Alexandre "Xamã". Todos marxistas-leninistas do PT. Eu havia me filiado ao PT em 1996, ainda com 16 anos via movimento comunitário de bairro. Peguei a rebarba decadente do ideário de formação política que os núcleos de base do partido ainda se preocupavam em proporcionar. Através da militância na associação de moradores do Barreto, Zona Norte de Niterói, ingressei no núcleo petista do Barreto. Minha ficha de filiação fora assinada pelo Rodrigo Neves, imagine! Que medo!


Em 1998, eu estava com 18 anos e decidido a trocar a FFP-UERJ, meu primeiro semestre de fato numa faculdade de História, pela outra matrícula em que estava classificado, a matrícula da UFF. Havia passado nas duas. Fui para a UFF porque os professores da UERJ idolatravam os figurões da História da cosa nostra. Eu não os conhecia mas sabia da fama nacional que a área nutria - e ainda nutre - pela turma do Gragoatá. Fetiche da mercadoria. Eu queria estudar com o tal de Ronaldo Vainfas, o tal de Daniel Aarão Reis Filho, o tal do Deus Ciro, enfim, os tais.


Quando entrei na UFF, já estava em profundo rompimento com o PT, sobretudo após o episódio emblemático da destituição imposta pela Direção Nacional do partido (leia-se José Dirceu) de Vladimir Palmeira como candidato legítimo das bases para governador. Era uma candidatura escolhida pelos filiados e substituída, a toque de caixa, pela obrigação de se apoiar Garotinho para governador, tendo como vice Dona Benedita da Silva. Uma composição inesquecível em troca do apoio de Brizola na chapa, como vice-presidente, do então candidato Lula.

Deus que me livre! 
(pausa para respirar...)


Pois então: meus fantásticos veteranos petistas Léo Lobinho, Xamã e Josimar sabiam do meu grau de insatisfação com o PT na época. O que eles não imaginavam é que o meu encontro com Alex Bafo, Paulo (gal)Inácio, Dr. Wolverine, Roberto Martins, Janis Joplin, Raquel Roll (ou Raquel Pedacinho do Céu), a outra Raquel - ou Raquel do Paulo Inácio -, China (o rapaz da Colina), Rafael Boccanera ou "Bob Pai", Casé, Denis Dopping, Pequeno, Patrícia Solar, Marco Sparano, Mineiro, Roger Hitz, dentre outros perigosos ainda soltos por aí, afetaria significativamente meus neurônios, desmanchando axiomas sólidos, e fazendo do que me restava de socialista bolchevique (quase nada) apenas fumaça na Avenida Bob Marley.

Como desprezar figuras como estas? O que dizer de Zé Leonardo e Fortunato, os maoístas suspeitos que inventaram o nome da primeira gestão do CA em que participei - "A História Nasce do Fuzil"? Lembro-me de Zé Leonardo tentando me vender o livro de Mao Tsé-Tung escondido, cheio de paranoia da vigilância militar que poderia estar por ali, à espreita, pronta para um bote anacrônico nos comunas!? 

Fato é que a gestão do CA, a primeira em que participei, tinha a capacidade de reunir de maoístas a libertários mas sua gênese havia sido um vazio político que tentávamos, a todo custo, preencher. Eu era calouro e lembro bem o que tornou a chapa motivo de exclusão de alguns: menos pelo nome, alvo de muitas chacotas e críticas, e mais pela convicção em manifestar repúdio ao governo de Jorge Roberto Silveira (eterno prefeito de Niterói)! Como pode, né?

Lembro-me de Tiago CONEHI - que figura! - e Manuela Bretas bastante incomodados com esta afirmação. Hoje, quem diria, quase uma unanimidade entre os niteroienses de mínimo senso e nenhum cargo municipal.

Mas o encontro com os professores mais esquisitos que já tinha visto, ah, isto não tinha preço! O que era Marcos Alvito, ainda professor de História Antiga, dizer textualmente ao colega Ypuan, calouro da minha turma, diante de seu primeiro seminário na universidade: 

- Meu filho, vou te dizer a verdade. Larga esta profissão de historiador. Não é a sua. Infelizmente, você está no lugar errado.

Ou o Guilherme Pereira das Neves, professor de Teoria, Métodos e Historiografia, entre um Marlboro e outro, ainda na minha turma de calouro: 

- Na minha opinião, os alunos da noite e os alunos que passam para o segundo semestre, estes reclassificados, estão numa condição inferior de aprendizado. O bom historiador só fica bom mesmo se estudar o dia inteiro e quando tiver lá na casa duns sessenta anos ou mais.

Ou o Prof. Ronaldo Vainfas, numa reunião de departamento. Eu integrava a Comissão de Comunicação do CA. Esta frase foi publicada no Jornal do CA de História de março de 1999:

- Não devia existir este negócio de recurso de aluno. A gente fica muito exposto!


Ou a pérola do Prof. Daniel Aarão Reis Filho, tão famoso, sem comentários:

- Eu acho que aluno da graduação não deveria ter direito a voto [na reunião departamental]. Aluno da graduação ainda não pensa. 

Pérolas como estas levaram a uma classificação simplista e obviamente provocadora em uma edição clássica do Jornal do CA, em que os nossos professores eram classificados, conforme suas respectivas posições políticas, como "conservadores", "de centro" ou "progressistas". Para desespero de alguns.

Inaugurava assim uma relação extremamente afetuosa com os meus mestres. Em 1999, fui eleito membro do conselho universitário; em 2000, participei da construção de duas semanas culturais em referência aos 500 anos de Brasil ("500 anos de Poliesculhambose, a nossa versão sobre os 500 anos de Brasil"); no mesmo ano, ocupamos a parte lateral do Bandejão com a polêmica "Vigília Em Defesa da Universidade Popular", tomamos o gabinete do reitor em protesto contra a situação caótica em que vivíamos na universidade em tempos de FHC no poder e ainda desenvolvemos a primeira (e única) Oficina de Libertinagem no Encontro Nacional de Estudantes de Ciências Sociais no bloco C, do Instituto de Letras. Agradecimentos a Louise pela lembrança!

Em 2001, como era de se esperar, fui convidado a me retirar com um cancelamento de matrícula injustificável. Não tinha reprovação continuada da mesma disciplina nem havia abandonado o curso. Através de recurso interposto na PROAC, voltei. Como consta na autorização dada pelo então coordenador de graduação da História, Prof. Paulo Knauss, o qual tive de concordar para poder retornar:

- O estudante se compromete a cumprir rigorosamente o seu planejamento de estudos, com plena satisfação do exigido por seus professores no estrito âmbito das competências inerentes à plena formação do historiador. 

Ah, bom. Entendi. 
Acabou a graça.
Acabei preferindo fazer rádio comunitária.
       



       

       

 
 

   
         

sábado, 9 de abril de 2011

SIFO! - Sociedade dos Súditos Independentes, Fudidos e Oprimidos pelo Império Educacional da LapiZeira

Colégio Santa Terezinha / Grafite São Gonçalo, 1997. Terceiro ano do Ensino Médio. 17 anos. Depois da transformação sugerida no post "A Droga da Obediência", da fase nerd para a fase kaosística-revolucionária, adotei o seguinte visual: cabeludo, vestido permanentemente de preto. Rock´n roll. Troquei os óculos pesados por lentes de contato. No começo, lentes comuns e olhos pretos. Depois, olhos cinza. Os cabelos viviam sempre presos, sendo soltos apenas na UFF. Adorava provocar os professores mais conservadores, respaldando minhas atitudes nas melhores notas possíveis.


Lembro-me do Prof. Edson Campos, de Português (porra, sempre os professores de português, não?), que também era diretor da escola. Saudoso professor! Era um excelente professor de português mas carregava consigo um conservadorismo xarope. Sua diferença: era conservador mas era bem-intencionado. Queria qualidade na educação e tinha uma proposta ideológica coerente com princípios nobres, aqueles que nos elevam o caráter e não rebaixam, por pura insegurança íntima, os sonhos alheios.
 
Eu nunca tive problema com as diferenças que me contrapõem aos conservadores bem-intencionados porque mesmo que pensemos diferentes, sabemos reconhecer, nós, os libertários, que conservadores bem-intencionados reconhecem suas limitações e nos respeitam nos momentos cruciais da vida.  Julgam-nos sonhadores mas, no fundo, curtem ao seu modo a nossa louca existência.  

Tenho dificuldades com conservadores mal-intencionados,  aqueles que objetivam o poder pelo poder, tendendo ao autoritarismo e à sabotagem cínica dos sonhos alheios por puro capricho. São vaidosos e inseguros, portanto, precisam destruir os outros. 


Este professor é o caso da primeira classificação. Por isso, honro seu nome e me orgulho de ter sido seu aluno. Provocava-o por puro exercício de construção identitária, algo inerente à juventude dos meus tempos, sem desrespeitá-lo ao ponto de querer destrui-lo. Sabia que o mesmo era o que ele me desejava. 

Certo dia, o professor pôs-se a vigiar a entrada da escola porque desconfiava da competência do porteiro na fiscalização dos uniformes. Aquela história de aluno de São Gonçalo, no auge do calor que atormenta aquela terra, vir de casaco ou camisa de malha comprida e preta, não estava pegando bem aos seus olhos e às regras da escola. Certamente estavam burlando uma regra fundamental ao aprendizado escolar: a uniformização dos diferentes.

Era o meu caso, óbvio. Minhas questões eram: 
1 - por que fazer propaganda gratuita de uma escola particular que meus pais pagam para que eu estude?
2 - por que eu não posso vestir preto se eu sou roqueiro e esta é a imagem que me interessa?

Abordado pelo Prof. Edson, coloquei estas questões em pauta. Estava com o uniforme debaixo da camisa de malha longa e preta. Ele exigia que eu, então, tirasse a roupa de cima. Eu o rebatia: se o problema é fazer propaganda da escola, eu corto minha camisa de cima na parte onde se encontra o logotipo da escola na camisa de baixo. Ele ficava furioso, sua cara rubra e possessa. Certamente, eu era um adolescente irritante. Mas era um bom aluno porque estava interpretando, argumentando, defendendo um ponto-de-vista e refutando interesses econômicos subentendidos, ou seja, não estava simplesmente mandando ele tomar no cu. Não estava arrumando pretexto para não estudar ou para não comparecer à escola. 

Na hora em que argumentei, ele me repondeu: "é, meu filho, vai, entra logo na escola, que dela vai ser difícil você sair. Com esses argumentos, vai acabar professor de História!" Ele soube reconhecer esta diferença. Posteriormente, arrumaria um problema maior com outros colegas por liberar esta exceção. Mas o interessante é que ele sabia o quanto eu gostava da área de História, ouvia meu papo e identificava uma vocação. Cedia ao argumento contrariado mas, ao mesmo tempo, estimulava meus sonhos que não eram dos piores que se encontram por aí.

O fato é que a gente não se contenta em ganhar uma discussão, a gente quer o mundo inteiro para si.

Pressionado pelos colegas que haviam sido insistentemente reprimidos em suas vestimentas alternativas, o Prof. Edson resolveu retroceder e me proibir de entrar na escola num outro dia. Puto da vida e sem compreender, ainda adolescente, que nossas liberdades individuais, por mais garantidas que sejam, serão sempre condicionadas pelas razões preponderantes no coletivo em que vivemos, convidei amigos para reagir de forma inteligente. Escreveríamos um jornal que seria distribuído de graça na porta do Colégio Grafite com críticas ácidas, deboches e outras provocações impróprias, logicamente sem citações diretas que nos comprometessem muito.

Meu amigo Ramon, hoje fisioterapeuta, bancou a ideia e me apresentou ao seu pai, então pretenso candidato a vereador por São Gonçalo cujo escritório possuía uma máquina de xerox importantíssima para nossas revoluções no cotidiano. Ramon era um cara popular na escola, gente boa com a política na veia que já promovia churrascos com a galera da escola em várias casas da elite gonçalense. Com outro amigo de bairro, eu utilizava o computador que produziria o jornalzinho perigoso, enquanto a distribuição gratuita seria financiada pelo pai do Ramon por muito tempo. 

Assim nasceu e cresceu o "SIFO! - Sociedade dos Súditos Independentes, Fudidos e Oprimidos do Império Educacional da LapiZeira (sic)", que era assim grifado por fazer chacota com o nome do Colégio Grafite. Durante muito tempo, explanávamos frases e comentários do ambiente escolar e apelidávamos nossos professores para que nunca eles pudessem nos processar (tamanha a ousadia, tamanha a paranoia). 

No final das contas, o Prof.Edson - que queria nos matar em diversos momentos - acabou permitindo que a publicação fosse distribuída dentro da escola. A capa do jornal passou a ser afixada no mural principal e, tirando um abuso ou outro que cometemos, como o dia em que fui acusado de racismo por uma colega negra por tecer considerações a um certo odor característico dos negros quando não patrocinam adequadamente a sua própria higiene, o jornal foi de vento em popa e mudou diversas regras de relacionamento na escola. Colocamos questões importantes em debate.

Hoje, agradecido aos professores do Grafite por terem sido profissionais na tolerância e no estímulo a um talento, sei que devo a eles também a opção por História, pela educação de qualidade como projeto de vida, aquilo que só fui rechaçar na própria faculdade. Tornei-me professor de História e lecionei por nove anos mas nunca terminei a faculdade porque nela, infelizmente, esbarrei com conservadores mal-intencionados que me perseguiram cruelmente. 

Devo dizer que estão todos perdoados e que fico feliz em ver as obras por que tanto lutamos, no período em que pela UFF passamos, serem concretizadas. Os maiores estímulos que tive na vida foram saber que, mesmo quando fui perseguido ou detonado injustamente, pude retornar aos mesmos lugares e constatar que as lutas que inflamaram a mim e aos meus amigos tiveram êxito após o nosso afastamento no tempo e no espaço, foram sementes que brotaram e desenvolveram frutos. 

Gostaria muito de contar isso para o Wellington Menezes de Oliveira* e a todos que, de uma forma de outra, alimentaram mágoas e ressentimentos nocivos do ambiente escolar. Com todos os seus defeitos, precisamos zelar por nossas escolas como espaços sagrados. Devo muito a todas elas.


* atirador da escola de Realengo, ex-aluno que voltou para assassinar crianças sem culpa pelos seus traumas.                     

sexta-feira, 8 de abril de 2011

                                    Fernando Calado em Brasília (DF): novembro/2010.
                                     Ao fundo, o Congresso Nacional e os Ministérios

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A Droga da Obediência

Sensacional livro de Pedro Bandeira para o público adolescente, "A Droga da Obediência" foi a primeira sugestão - e talvez a única em toda a minha longa trajetória de aluno - aceita por uma professora. O processo que levou à aceitação da sugestão e as duras consequências para a escola em que eu estudava no ano seguinte valem a crônica.

Estava na sétima série, atual oitavo ano do ensino fundamental (1993), e como todo adolescente esquisito, nerd, meio boiola e antenado nas miseráveis intenções humanas, usava óculos "fundo de garrafa" e tinha uma vontade danada de me libertar daquela violenta sensação de opressão que os estudos atrelados aos hormônios começavam a demandar.

Era tido como um dos melhores alunos e tinha um segundo idiota (meu Deus, lembro-me bem do orgulho de termos disputado e ganhado o prêmio "aluno-exemplo" ou "aluno-referência" dos professores, argh!) que concorria comigo em cada detalhe de cada aula.  Sim, porque aprendi com o cinema americano e com a práxis escolar que os "alunos-referência" são aqueles que melhor agradam os professores. E "agradar" pode ter um sentido todo especial.

Apenas um parêntesis: Tudo bem que eu não posso ser isentado deste passado mórbido mas meus métodos eram seguramente mais, digamos, contidos. E data deste episódio, uma ebulição interna de oitavo ano (na minha época, acontecia no oitavo; hoje, isso começa no sexto ano do fundamental), o marco histórico que me separa da fase nerd para a fase kaôsística-revolucionária. 

Treze anos de idade, 1993.

A Professora de Português era muito dedicada. O que tinha de dedicada, tinha de madame. Quando lembro dela, lembro daquela frase esdrúxula do Brizola para suavizar as críticas do SEPE aos baixos salários dos CIEPs: "não existe professora mal paga, existe professora mal casada". Era daquele tipo, o tipo "bem casada". Fetiche de normalista ou estudante de Letras cujo sonho sempre foi ser a mulher de um doutor engenheiro ou militar de alta patente. Para se ter uma ideia, a minha professora comentava coisas do tipo: "o que me encanta em um homem são os seus sapatos". Acho que não preciso comentar mais nada.

Eu gostava dela. O meu amigo nerd também. Em um momento em que a sexualidade da gente ainda está se definindo (isso no meu tempo, porque hoje se admite que a sexualidade não se define mais para o resto da vida em boa parcela da população, ou melhor, pelo menos no âmbito privado. Publicamente até se esbraveja muito o heterossexualismo), eu e meu amigo, pelo menos, masturbávamos muito pensando naquela professora.

Ele fazia de tudo por ela. Eu, como já comentei, era mais na minha. Não satisfeito em ter acesso privilegiado a sua residência, o amigo começou a decorar dicionário para recitar vocábulos prolixos em sala de aula (para desespero dos colegas de classe). A professora quase gozava. Ele enchia a boca para respondê-la sobre qualquer assunto e ela babava a olhos vistos, incentivando que eu fizesse a leitura em voz alta de textos enquanto se deliciava com aquela chuva de palavras estranhas do colega nerd, seus sinônimos, homônimos, parônimos, xoxônimos e picônimos.

Certa vez, tudo ia muito bem, ele com um 10 aqui, eu com um 9,5 ali, ele com 9,5 cá, eu com um 10 acolá, quando ela pediu à turma sugestões de livros extraclasse, ou seja, livros de literatura para serem lidos, selecionados e trabalhados por toda a turma. Bons tempos esses em que ler literatura no ensino fundamental não traumatizava aluno! Hoje traumatiza, é torturante, gera furor pedagógico em alguns pais, avós e professores ensinados assim. É por isso que se escreve tão mal em nossos tempos! Mas isso é outra história.

O fato é que eu gostava de ler, sempre li muito independentemente de professor mandar, de pai punir ou fazer discurso. Mais tarde, na faculdade, seria taxado de mau leitor por contrariar a cultura científica das citações obrigatórias, o que fiz mais por ideologia do que por desconhecimento. 

Foi assim que conheci, jogado em volume único, dentre resmas de chamex que formavam uma pilha na antiga Casa Mattos, papelaria do centro de Niterói, o livro "A Droga da Obediência" de Pedro Bandeira (Editora Moderna). Ninguém havia me orientado a lê-lo, ninguém havia feito propaganda em lugar nenhum: Ele estava lá, perdido, me procurando. Eu estava na papelaria com minha mãe atrás de um simples caderno e o motivo da minha chegada àquela papelaria, como em tantos outros encontros e desencontros pela vida, era o encontro do livro que eu precisava ler, que me transformaria em mero canal da obra para tantos colegas e que falaria tanto das intenções conspiratórias - mas sempre pertinentes - de controle social por parte de alguns humanos. 

Apesar de todas as citações de dicionário e de toda a intimidade com a professora, meu amigo nerd não emplacou a sua doce sugestão literária. 

"A Droga da Obediência" foi o livro escolhido para ser adotado em todas as turmas de oitavo ano no colégio em que eu estudava. Discutia rebeldia, controle social e a importância dos criativos no contra-golpe, do respeito ao próximo e da organização coletiva dos oprimidos na superação das condições adversas. 

No ano seguinte, o livro era usado em discursos inflamados contra posturas de uma outra professora de português. A que adotou havia sido demitida. A que assumiu as turmas no ano seguinte era extremamente arrogante e prepotente. Escrevia errado demais e humilhava os alunos com dificuldades. 

Mas o que ninguém aguentava mesmo era o seu mau hálito. No começo, balinhas e hipocrisia, para aliviar o odor de esgoto na sala, eram oferecidas pelos alunos. 

Mas a nossa insurreição, a insurreição dos sinceros, levou à demissão da nova professora no ano seguinte. Dizer à professora que ela tinha esse problema de mau hálito e que as palavras estavam escritas de forma errada no quadro negro custaram-me muitas notas ruins mas foi ali que aprendi o perigo que representa se calar diante dos perigosos inseguros.

Ou se tornar um deles.

     
       

     

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A influência da TV na vida das pessoas

Em 1995, quando cursava o primeiro ano do Ensino Médio no Colégio Gay-Lussac Centro (Niterói, RJ), tinha apenas 15 anos de idade. A professora de Português, saudosa "Totinha", sugeriu como trabalho em grupo a ser apresentado o tema "A Influência da TV na Vida das Pessoas". Não à toa, certamente. A turma 013, a mais bagunceira da escola, contava com um colega que iniciava seus rumos na carreira artística: André Marques, atual apresentador do "VideoShow" (TV Globo), então com a mesma idade que eu, começava a gravar os primeiros capítulos de "Malhação", seriado que só iria ao ar tempos depois. André era muito amigo meu, fizemos o trabalho juntos. Chamava-me de "shock", gíria do funk na época. Tenho até hoje o vídeo que produzimos em sua casa em São Francisco. Eu, ele, Daniel Karin e Valério, figuraças do Gay-Lussac.

Optamos por produzir um vídeo em que simulávamos um telejornal, onde eu era o apresentador. Enquanto a notícia veiculada tratava do aumento da inflação, o apresentador, matreiramente, manipulava a abordagem do conteúdo direcionando a sua interpretação: "sai o novo índice da inflação medido pela FIPE: a caderneta de poupança vai aumentar". Com esta tirada, nossa intenção era denunciar os interesses políticos velados da empresa jornalística, sempre em consonância com os poderosos de plantão.

Ao longo da apresentação do telejornal, o apresentador - eu, cabeludo, sempre com os óculos escuros - apontava para uma garrafa de álcool cuja marca estava exposta no balcão do telejornal. Daniel Karin e Valério entravam nos comerciais, correspondendo a um casal (aparentemente hétero, pois Valério se aproveitava de seus longos cabelos e interpretava um mulher cheia de pelos). Eram telespectadores que acompanhavam as notícias, concordavam com a matéria da inflação que ajuda na poupança e apelavam, de forma sarcástica, para que as pessoas usassem camisinha nas relações sexuais. 

André Marques entrava sem camisa - era magro e cabeludo também - na figura de um narrador que explicava nossas intenções reais. Em sua fala, explicava o que era "merchandising", peça publicitária embutida na programação oficial da emissora, enquanto eu entrava na sequência tratando da manipulação do jornalismo. 

Em uma outra cena, todos aparecem juntos diante de uma TV. Assistíamos a uma novela e discutíamos com os personagens e entre nós o que parecia real. André entra de novo explicando a confusão que muitos telespectadores fazem quando encontram os artistas na rua e acabam agredindo-os ou felicitando-os como se fossem, de fato, as próprias personagens fictícias na vida real.

Tiramos 9,5 no trabalho. Acho que o meio ponto ficou por conta do acabamento malfeito. Sem edição correta, o vídeo termina com uma chamada do André para os estúdios da Cinedia, no Projac (área de produção da dramaturgia da TV Globo, onde ele começava a trabalhar). Nossa intenção era entrevistar pessoas da TV Globo mas a falta de tempo do colega com suas gravações inviabilizou nossa visita e a segunda parte do trabalho. 

Minha saída do colégio, no final de 1995, afastou-me destas pessoas. Encontrei Valério quando estávamos na fila do alistamento militar, aos 18 anos, no quartel do 3o BI (onde hoje moram as pessoas vítimas do desastre no Morro do Bumba). Daniel Karin tornou-se músico e até me reconheceu em diversos momentos na Cantareira. 

Tempos depois, telefonei para a casa do André Marques mas ele negou que me conhecesse: "você deve ser um fã otário querendo perturbar meu sossego!" - esbravejou, desligando o telefone na minha cara. 

Vários amigos daqueles tempos confirmaram que ele estava assim, digamos, influenciado pela influência da TV na vida das pessoas.        

sábado, 2 de abril de 2011

Aos 8 anos de idade, o primeiro jornal

Por volta de 1988, quando eu tinha apenas 8 anos de idade, produzi o que seria uma primeira editora própria - a Editora FAC -, cujas publicações restringiam-se a um mural de cortiça pendurado em meu próprio quarto (onde constavam pretensas publicações), um gibi real com personagens próprios (a "Turma da Bombinha") e um jornal da família (chamava-se "A Família Almeida"), de conteúdo irônico e bem humorado, com tiragens em xerox direcionadas à leitura de parentes e críticas comportamentais.

"A Turma da Bombinha" era produzida com uma simples moeda e seus personagens eram: Bombinha, Bomina, Bumo, Bum e Plash. Eram adolescentes que viam a vida de forma explosiva, sem muitos cuidados com a necessidade do Ser. Claro, esta é uma interpretação atual, de quem, já no auge dos seus 30 anos, olha pra trãs e lembra das abordagens que sempre me inspiraram. Um traço revolucionário era presente nas aventuras das pequenas bombas que constituíam um grupo de amigos com a capacidade de explodirem o que lhes parecia desagradável ou injusto. Infelizmente, não guardo até hoje publicações daquele período mas lembro bem dos formatos e das tiras de quadrinhos, dos assuntos discutidos e da simplicidade dos contornos, todos feitos unica e exclusivamente com caneta esferográfica.

O jornal familiar "A Família Almeida" poderia até ser produzido para a família de meu pai, de onde vem o sobrenome "Calado". Mas foi a intimidade maior com os familiares maternos que permitiram uma publicação debochada apenas para esta banda de parentes. Lembro-me bem que criava apelidos, narrava histórias contadas ao pé do ouvido e até descrevia lances inusitados que rolavam em encontros familiares. Naquele período, pincelava meus primeiros passos na escrita e no jornalismo, com comentários muitas vezes perigosos porque incompreendidos por alguns parentes.

Lembro-me de uma tia a quem apelidei de "o FMI da família" numa alusão clara à posição de tia em melhores condições, que ajudava parentes mas cobrava aspectos da conduta moral do contemplado ou jogava na cara seus feitos para constrangimento eterno. Um primo fora chamado de "Eduardo Ogênio", numa referência ao industrial presidente da Federação das Indústrias do Estado do RJ, Dr. Eduardo Eugênio Gouvea Vieira. Neste caso do primo, pobre e enrolador, figura 171 típico, apenas mais um dos ácidos deboches que constavam no jornal. Uma tia que gostava muito de levar doces e salgados de festas de aniversário, comendo no local o que pudesse, era chamada de "Mão Lalão Dikitute" e as pessoas eram assim tratadas e consideravam inteligentes e bem humoradas as matérias do jornal, muitas vezes esperando as novas edições mensais.

Mas foi justamente a tia que apelidei de "o FMI da família" quem me chamou duramente a atenção repudiando o jornal. Para isso, ela me convidara para um almoço na sua casa, tratando-me muito bem até a hora da cobrança. Considerava, no auge de sua paranoia, que estava eu, ainda criança, sendo manipulado por algum adulto que, maliciosamente, queria tirar uma com a sua cara. E não era o caso: estas comparações eram possíveis graças à leitura sistemática que fazia do Jornal do Brasil, periódico mais aprofundado que meu pai adorava ler e nos explicar quando ainda se interessava por política e pela esquerda partidária.  

Chorei muito quando fui repreendido por esta tia e por seu marido, lembro-me bem já com uns 11 anos. Naquele momento, tomei a decisão de não mais escrever o jornal da família. Alguns parentes me estimularam a continuar, outros criticaram muito a postura desta tia. O fato é que, ainda novo e muito sensível, leitor voraz de jornais e altamente estimulado, principalmente com os assuntos de política, iniciava meus passos na escrita e no jornalismo e já sentia o peso da consequência que uma opinião mordaz traria à minha pessoa. 

A cruel realidade social de nosso país, reflexo também das atrocidades econômicas determinadas pelo Fundo Monetário Internacional como compensação de dívidas contraídas por nossos governantes no passado, era-me perceptível e análogo ao tratamento dispensado por minha tia de melhores condições financeiras a outras da família. 

Em tudo, da macroeconomia mundial à microeconomia familiar, dos 8 aos 11 anos de idade, período em que publiquei os periódicos de "A Família Almeida", inclusive nas razões que levaram ao seu encerramento, já apresentava minha visão de mundo revolucionária, minha postura política delineada por leituras e influências diretas do meu pai, mas que se aprimoraram de forma precoce e alcançaram frutos em diversas passagens por causas coletivas significativas.             

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Histórias verídicas: memórias e vivências a serviço da Humanidade

Caro leitor, seja bem-vindo. 

Através deste blog, contarei muitas das minhas vivências, experiências e contribuições a serviço de uma sociedade melhor. 

Utilizo-me de relatos verídicos, contos, crônicas, artigos e poesias. Nestes, você terá a oportunidae de conhecer um pouco da trajetória de vida deste eterno professor-aluno.

Muitas foram as pessoas que contribuíram nas histórias que serão aqui descritas mas seus nomes verdadeiros, obviamente, sempre que necessário, serão omitidos como forma de preservação de suas respectivas privacidades.

São narrativas que registram iniciativas importantes, pensamentos e atitudes que influenciaram desde a comunidade onde nasci e fui criado, passando pelas escolas e pela universidade em que estudei até serviços que prestei em escolas, ONG, órgãos públicos e instituições privadas. 

Sempre tocando causas coletivas, algumas planejadas e outras nem tanto, abordarei desafios encontrados, ideias e observações que servirão para muitos dos leitores sequiosos por justiça, educação de qualidade, democracia, popularização do conhecimento científico e fim das opressões que tanto torturam sociedade e indivíduos em nossos tempos.

Espero que possam curtir e comentar livremente, extraindo lições próprias de cada caso e até acrescentando ou corrigindo eventuais distorções inerentes à visão de mundo que ostento.

Boas aventuras!

Prof. Fernando Calado