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Niterói, Rio de Janeiro, Brazil
Estudante, professor e agente da História de seu tempo. Deformado pela Universidade Federal Fluminense, pela capacidade de resiliência em torno de causas justas, pela coragem e pela sinceridade. Dinâmico, espiritualista, intuitivo, libertário, imprevisível. A leitura de seus textos é recomendada a quem faz uso de covardias.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Eleições em Bocaina de Minas (MG) - Parte 2: projetos importantes para a cidade

       Continuando a série de artigos sobre as eleições municipais de 2012 em Bocaina de Minas (MG), cidade a qual sou apaixonado mas não resido atualmente, tentarei neste artigo expor alguns dos projetos que, acredito, serão de fundamental importância para o projeto de mudança significativa da cidade a partir de uma gestão que se comprometa mais com a qualidade de vida na pequena cidade  que com perseguições políticas ou desvios de verba pública para enriquecer meia-dúzia. 


         No primeiro artigo, mencionei a importância da profissionalização do serviço público em substituição ao modelo tradicional de contratações temporárias por voto de cabresto e/ou nascimento na cidade. Defendi a ideia de que mais concursos públicos limpos sejam feitos, principalmente para áreas que exijam a qualificação máxima dos serviços que deverão ser oferecidos à população. Defendi que estes servidores, por gozarem de maior estabilidade e plano de carreira decente (a ser criado também), poderão colaborar com dedicação muito maior e ainda criarão uma cultura de formação de novos servidores a partir do tempo de experiência na função. Ao mesmo tempo, ressaltei que estabilidade no serviço público é necessária para proteger o servidor de ameaças políticas, não para mantê-lo impune em casos de conduta incompatível com as responsabilidades de sua função. 


        Deixei claro que não adianta nada garantir empregos a pessoas nascidas em Bocaina, discriminando as pessoas "de fora",  se o profissional que desempenhar tal função não for o melhor para tal, se não conhecer do que faz, comprometendo a qualidade do serviço a ser prestado A TODOS OS CIDADÃOS. Se queremos mudar, temos de FORMAR melhor cada cidadão de Bocaina para que este tenha condições de assumir cargos em pé de igualdade com quem tenha qualificação necessária, seja nascido onde for. Só assim vidas serão preservadas na área da saúde, jovens terão ensino de qualidade, servidores administrativos poderão contribuir com ideias para acelerar e produzir documentos necessários ao cotidiano e às novidades que deverão ser trazidas, em termos de projetos e patrocínios, à cidade.


        É fundamental tocar nestas questões que envolvem uma tradição da nossa mentalidade política. Se o município não consegue avançar, se os piores políticos acabam sendo eleitos, é porque esta mentalidade política tradicional do jeitinho, do privilégio e da perseguição política a adversários, que nega à maioria o direito e concede apenas a aliados o favor, como se dono da prefeitura fosse o prefeito eleito, só nos têm levado a atrasos e dores, a dificuldades reais que expulsam os filhos da terra por falta de opção de sobrevivência. Isto tem que mudar e tem que ser cobrada esta mudança de todos os candidatos. Depois, a mesma coisa dos eleitos.


        Há vontade de mudar. Esta mudança não será apenas de comando, de nomes, mas de forma de administrar a cidade. Sejam os eleitos quem forem, deverão ter esse compromisso, essa cobrança insistente por parte do cidadão comum. Uma cobrança em torno da profissionalização do serviço público, de projetos e investimentos que gerem emprego e renda fora da prefeitura (pois nela nunca vai caber todo mundo que tem promessa de cargo público), de mudanças que sirvam a TODOS OS CIDADÃOS e não apenas a aliados políticos ou a nascidos na cidade. 


       É preciso oferecer a chance aos filhos e apaixonados por Bocaina de Minas, os que nos deixaram e os que ainda nos deixarão em busca de oportunidades de formação e trabalho nas cidades grandes, de voltarem ou nem irem, se assim quiserem, pois nas cidades grandes diversos outros problemas existem e afetam a qualidade de vida das pessoas. Estas vivem em grandes concentrações populacionais, stress contínuo, violência urbana ascendente, e, muitas das vezes, desejariam viver na pequena cidade em que nasceram e foram criados, naquela em que escolheram pra viver. Morrem de saudades de seus parentes e amigos. Sabem, porém, que a política municipal é a principal responsável pelo que falta à cidade, pelas perseguições que sofreram, pela decisão dolorida do afastamento.


        Neste sentido, a gestão que mudaria de fato a cidade precisaria construir a melhor escola pública possível, a oportunidade do ensino técnico e profissionalizante, até mesmo a formação superior que fosse possível (já experimentamos o ensino à distância, por exemplo). Temos de construir um teatro, um cinema, pelo menos no centro, e um espaço cultural em cada comunidade. A formação cultural passa pela escola mas é complementada por equipamentos culturais públicos capazes de oferecerem peças de teatro, espetáculos musicais, filmes nas telonas, exposições, todo tipo de arte possível. Não apenas expor, apresentar, garantir espaço à arte e aos artistas que já existem, mas também formar nossa própria arte e nossos próprios artistas, que precisam receber bem algum subsídio para serem respeitados enquanto profissionais. Isto seria gerar emprego e renda também, colaborando, ao mesmo tempo, com as reflexões que precisamos fazer a respeito da política e das relações humanas em geral. Seria construir a possibilidade de lazer e de cultura que tanto sentimos falta. Quantos não reclamam de que falta opção de lazer, cultura e diversão na cidade?


        Eu sei que parece absurdo, utópico, impossível mas não é não. Uma boa gestão municipal saberia que o governo federal, o governo estadual, órgãos internacionais e empresas privadas patrocinam iniciativas deste tipo onde elas não existem. Para tanto, a prefeitura poderia fazer contatos, escrever projetos, intermediar apoio oficial, ter vontade política de atrair o investimento para tal. Basta querer fazer, reunir e pagar bem aos profissionais que sabem fazer, assegurar estrutura a estes profissionais. Tenho certeza que, em pouco tempo, estes gerariam uma programação cultural na cidade que chamaria a atenção da população e de turistas, outro segmento que injetaria mais recursos e que já se configura vocação econômica do município, ainda que sem a organização e o planejamento necessários. 


        O mesmo pode ser alcançado na área de esportes. Observamos que nosso povo gosta muito de futebol. Sempre há uma correria dos times de cada comunidade atrás de alguma ajuda dos políticos para uniformes, bola, rede, reforma de campo, troféus, medalhas e festas de final dos campeonatos. As comunidades se organizam, fazem bolões, têm as pessoas que são referências na organização dos campeonatos. Por que não ter uma política que garanta - sem a necessidade de implorar por favor, mas sim já o tenha por direito - um orçamento próprio para estas iniciativas? Elas poderiam ser ampliadas para outras modalidades esportivas. Temos três quadras poliesportivas (Bocaina-Centro, Santo Antônio e Mirantão) construídas no mandato do Wilson Taviano e abandonadas pelo Aléssio. Elas só precisam de manutenção, um professor de educação física disponível em cada uma delas e os materiais necessários. 


       Qual é a dificuldade de promover isso? Só o roubo e a necessidade de manter as pessoas no favor do empreguismo, no inchaço de gente ganhando sem fazer nada ou sem saber fazer nada, mas ganhando um qualquer enquanto não são substituídas por outras dentro da prefeitura, de acordo com o interesse do prefeito na ocasião. Enquanto as pessoas disputam quem vai levar um tanto para si e para sua família, sabotam o trabalho das outras e tentam puxar saco do prefeito, fazer o que ele quer, para serem privilegiadas ou não serem demitidas, SÓ PERDEM achando que estão ou estarão ganhando. Assim, sempre são enganadas num momento ou no outro, ficam sem a cultura, o esporte, o posto de saúde, a escola e o emprego. E viram de lado, na esperança de que, com o outro lado político, voltarão a gozar de algum pedaço do bolo. São enganadas mais uma vez e quem enriquece e permanece no poder fazendo que quer é o político. Nossa, como somos malandros, não? Os malandros mais otários do mundo.


         Na área de preservação ambiental, temos ONGs e proprietários conscientes de um lado e proprietários que odeiam ambientalistas, o IBAMA e qualquer mudança na sua propriedade. Mesmo aquela mudança que lhe dará mais dinheiro!!! Como a prefeitura não faz nada nessa área, só faz coro à manutenção do pouco gado em grandes extensões de terra desmatadas, mal informa ou busca recursos que PATROCINAM quem preserva o meio ambiente. É claro que o proprietário não vai gostar de ter que preservar sua terra, perder o direito de desmatar para explorar o gado ou a madeira, sem receber nada em troca. Também não aceitaria isso. Agora, se tem a opção de receber MAIS do que lhe rendem o largo pasto para o gado e a madeira retirada sem manejo sustentável, por que não optaria? O que falta, neste caso, é informação e apoio estrutural de uma boa equipe de técnicos (mais uma vez, de pessoas que saibam fazer no serviço público) para buscar essas informações e repassá-las, intermediando oficialmente patrocínios, recursos e verbas específicas para o pequeno produtor rural. Em nosso município, TEMOS PESSOAS CAPACITADAS para esta tarefa. É só querer vencer preconceitos e promover a mudança. Mais uma vez, o que impediu até hoje qualquer iniciativa BOA nesta área foi a AUSÊNCIA de uma prefeitura afim, certamente movida pela mentalidade do povo quanto a pessoas "de fora" empregadas na prefeitura. Se forem boas pra nós, por que não deixá-las trabalhar??? Pra perder achando que tá ganhando? Pra continuar na mão do político e, sem alternativa, ter de deixar a cidade e ser um "de fora" na cidade grande? 


      Se bem que a cidade grande não tem problema com quem é "de fora"... se tivesse, Resende, Aparecida e São José dos Campos já teriam expulsado diversos mineiros. Em verdade, os mineiros são tratados por lá de forma igual aos nascidos, com os mesmos benefícios, as mesmas possibilidades e as mesmas dificuldades. É assim que deve ser. Somos todos irmãos (como dizem os cristãos), brasileiros (afinal estamos migrando dentro do mesmo país), seres humanos (acima de tudo, com direito à dignidade em qualquer lugar do mundo). Temos gente boa e gente ruim nascendo e morrendo todos os dias em qualquer lugar do mundo.


        Voltemos então aos nossos projetos. Se as estradas são importantíssimas para locomoção de pessoas, do leite, do queijo, do turismo, da truta, de tantas coisas importantes, elas têm que ser mantidas a qualquer custo. As estradas principais que interligam as pontas de acesso ao município e as comunidades têm que ser todas ASFALTADAS. Estou me referindo à ligação Mauá-Mirantão-Santo Antônio-trevo de Bocaina (que já conta com a estrada asfaltada até Liberdade), à estrada  Resende-Bocaina e à estrada Santo Antônio- Alagoa também. Para que outras áreas - como as de acesso a cachoeiras - continuem preservadas de forma rústica, mantendo o charme das belezas naturais, os acessos às comunidades não podem ficar por muito tempo sacrificando a população em virtude de chuvas corriqueiras, sobretudo no verão inteiro. Mantém-se a estrada de barro na maior parte, asfaltam-se apenas os acessos entre povoados. Este é um projeto para gestões consecutivas, não para apenas uma gestão de 4 anos. A primeira tem que priorizar a captação de recursos e o começo da grande obra. Os trechos internos que ligariam a estradas já asfaltadas (como a de Mauá e a de Liberdade) já promoveriam grandes mudanças. Empregos durante as obras, empregos a mais e redução de custos às atividades econômicas agropecuárias, empregos e injeção de recursos pelo fluxo turístico em todas as atividades. Isto é possível. Além de reduzir o número de mortes ou complicações de saúde por pessoas que, acidentadas ou doentes, tiveram dificuldades de serem transportadas até o atendimento médico necessário.


       Antes mesmo do asfaltamento, ainda com as estradas que temos, a manutenção deve ocorrer ao mesmo tempo que seja assegurado pela prefeitura ônibus gratuitos e/ou baratos, em perfeito estado de conservação, para o transporte público das pessoas entre os povoados, o Centro da cidade e, se possível, Aiuruoca passando por Liberdade. Por que estas duas cidades? Porque nelas estão advogados, delegacia de polícia, fórum e hospital de modalidades  complexas mais próximos. Nosso povo tem que ter acesso a isto sem precisar recorrer a caronas, obviamente muito bem-vindas e expressão de gentileza a qual somos muito gratos, mas que não suprem as necessidades dos mais pobres no cotidiano das necessidades. Atualmente, utilizamos caronas em veículos públicos não destinados a isto, em veículos particulares ou, simplesmente, temos de esperar as próximas eleições para que os políticos disponibilizem, em apenas um mês antes das eleições, a gentileza de vários carros à disposição para o favor-agrado do eleitor. Nos outros 2 anos seguintes, estes carros somem e só reaparecem quando interessa aos candidatos. Transporte público não pode ser moeda de barganha eleitoral ou favor eterno e exclusivo, mesmo de particulares gentis. Tem que ser oferecido permanentemente e ter o compromisso de chegar ao destino no horário de outro que faça trajeto dali em diante, como o caso do ônibus da empresa Transmatur, que faz transporte de Bocaina até Resende mas que sai e retorna apenas uma vez por dia, levando o morador da área rural a perdê-lo se não encontrar carona a tempo.


        Continuarei tratando dos projetos de mudança para Bocaina de Minas nos próximos artigos. Em tempo oportuno, identificarei claramente meu apoio a candidatos que se comprometerem minimamente com estas propostas e tiverem trajetória política e alianças atuais condizentes com esta forma de governar. Vamos juntos superar nossos problemas e construir a Bocaina que tanto precisamos. Para tanto, é preciso ter projeto, passado e presente à altura, profissionalizar o serviço público, formar mais pessoas capacitadas, buscar onde puder os recursos e os apoios, derrubar esta tragédia política que nos governa há tantos anos na base da ganância e da humilhação. Abraço pra todos!                          


               


           


                  

sábado, 21 de julho de 2012

Eleições 2012 em Bocaina de Minas (MG) - uma análise sincera

      Estamos a poucos meses das eleições municipais de 2012. Em Bocaina de Minas (MG), isto significa o principal assunto de todas as rodas de conversa em qualquer lugar do município. Existem os que ficam "em cima do muro" por temerem as perseguições políticas do eleito. A maioria, entretanto, se posiciona, declarando abertamente seu voto. Quando participei da minha primeira eleição como eleitor de lá, a de 2008, era servidor municipal concursado. Fui avisado das consequências mas não pude me conter diante da promessa feita pelo então candidato Aléssio/Dito Augusto a cada eleitor em sua casa: "eu vou chutar esses concursados escada abaixo da prefeitura. Vou te dar um emprego, pra você e pra cada um da sua família (anotando num caderninho), com salário tal." Votei contra ele, obviamente, e assim continuarei na minha postura em 2012. 

      Antes de definir meu voto, tenho a clareza de que não apoiei, não apoio e nem apoiarei o Sr. Dito Augusto, o Sr. Aléssio e qualquer candidato que seja indicado por ele, esteja coligado na chapa com seu partido, tenha ele por trás de um mandato sob o perigo de vê-lo mandando na prefeitura. O próximo mandato precisa ser melhor do que esta tragédia que vivenciamos desde 2009. 

        Posicionei-me politicamente contra o Dito Augusto a partir daquela iniciativa de prometer expulsar os concursados ainda na campanha eleitoral de 2008. Aquilo me enfureceu. Sabia de perto dos méritos e dos defeitos da gestão do prefeito Wilson Taviano. Um dos seus maiores méritos foi justamente ter realizado o primeiro e único concurso público limpo da história daquele município, o qual me deu a oportunidade de trabalhar com relativa segurança numa perspectiva futura. Outro foi ter equipado as escolas com a melhor merenda possível, o melhor corpo de professores, ônibus escolares novos. Ao final de sua gestão, mandou pagar uma gratificação aos professores com os recursos que haviam sobrado (!!!) do FUNDEB (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica)! Construiu dois telecentros digitais para que a população tivesse acesso a cursos de informática e à internet de graça. Participei de perto da construção do telecentro de Santo Antônio do Rio Grande, onde organizei a recepção dos equipamentos e a inscrição de alunos. Daria aulas nele. O projeto foi abandonado pela atual gestão, que não calçou nada, não manteve o projeto dos telecentros, destituiu a escola dos investimentos que tinha, só fez perseguições políticas e desvios.

         Como não ser contra um candidato cujo pai era quem dizia governar a cidade em seu lugar? O pai do prefeito já havia sido prefeito outras vezes, cassado pelos mesmos erros, e que agora (2008) deixava claro que iria fazer tudo igual mais uma vez. Dito e feito, fez. Levou a cidade à pior condição que já teve. Gastou tudo e mais um pouco numa disputa judicial insana com 40 famílias que dependiam de seus cargos enquanto concursados do município. E perdeu, sem aceitar a perda por um bom tempo, em todos os recursos.

       A comparação com a gestão do Wilson Taviano (2005-2008) é inevitável. Ele pegou a prefeitura em 2005 das mãos do próprio Dito Augusto (2 mandatos: 1997-2000 e 2001-2004). Este, apesar de cassado em 2004, governava a cidade através do seu aliado e presidente da Câmara de então, o Amarildo Dinis. Tentou a segunda reeleição consecutiva e o TRE-MG concedeu o registro, apesar da flagrante irregularidade! O Brasil só permite 1 reeleição consecutiva mas o TRE-MG deixou passar essa. Ganhou a eleição de 2004 mas não pôde tomar posse porque nossa Justiça Eleitoral só percebeu e corrigiu a ilegalidade de sua candidatura em 2005, promovendo novas eleições na cidade. Em 2005, não podendo ser candidato, lançou Paulo Balieiro (que viria a ser o assessor de seu filho Aléssio - ou dele mesmo - na atual gestão que se iniciou em 2009 e termina, graças a Deus, em dezembro de 2012). 

      O coronel Dito Augusto, através do seu candidato, perdeu em 2005 para a oposição, que herdou uma prefeitura mergulhada em dívidas e com equipamentos destruídos. Wilson Taviano governou a cidade assim, arrumando a casa, entre 2005 e 2007, só podendo fazer grandes investimentos no final de seu mandato (2008). Foi duramente criticado por isso. Associaram os investimentos feitos a uma política eleitoreira, já que em 2008 sairia candidato à reeleição. Não compreenderam a política de austeridade implementada pelo Wilson porque não compreendem como funciona a dinâmica de repasses federais e estaduais que sustentam o pequeno município rural sem impostos próprios. Em Bocaina de Minas, apenas quem mora ou tem estabelecimento comercial no Centro da cidade ou na região turística de Maringá paga IPTU e/ou ISS. 90% do município não pagam nada de impostos municipais diretamente. Apenas ITR, que é um imposto territorial rural pago ao governo federal, e os impostos federais e estaduais embutidos nos preços de tudo o que compram. Assim, qualquer repasse federal ou estadual (únicas fontes de verba com que a prefeitura pode contar para promover tudo) está sempre condicionado ao pagamento em dia de dívidas ou, ao menos, à documentação em dia (prestação de contas adequada) de tudo que o município recebe do Governo do Estado de Minas Gerais e do Governo Federal, em Brasília. 

         Dito Augusto e o seu filho Aléssio sempre preferiram gastar livremente sem prestar contas adequadamente. No mandato do Wilson Taviano, eu posso falar porque acompanhei de dentro da prefeitura enquanto servidor da área administrativa, toda a documentação necessária era feita corretamente. Quando a gestão não justifica os gastos públicos naquilo que a lei determina às prefeituras (educação, saúde, urbanização, coleta de lixo, despesas com pessoal etc.), os repasses federais e estaduais diminuem até um mínimo compreendido pela lei como básico para o município não falir completamente. Nenhuma verba a mais pode ser solicitada para projetos específicos. Assim, quem ocupa as secretarias municipais de turismo, meio ambiente, educação, saúde, dentre outras, fica sem poder implementar nada que não seja o básico do  cotidiano. Fica completamente paralisado. O povo passa a sentir que os serviços públicos não funcionam, estão sendo abandonados e destruídos.

         A política não é sinônimo de corrupção e roubalheira. Estas práticas são práticas de quem não pode ter poder e acaba tendo porque, de certa maneira, somos nós os eleitores que desejamos que ela assim aconteça. Sei que há uma série de fatores colocados na vida de cada um de nós que nos leva a apoiar ou a rejeitar um candidato a cargo público. Existem o fator amizade, o fator parentesco, o fator privilégio pessoal ou para minha família. Só depois, lá atrás, vem, se puder passar pelo filtro anterior, o fator compromisso coletivo com a cidade. Este é um erro fundamental. O compromisso coletivo com a cidade é que deve ser o fator principal, filtro maior de todos os demais filtros, na escolha dos rumos que queremos. Não há privilégio pessoal para cada um dos eleitores que caiba no orçamento da prefeitura. Isto sempre será promessa furada, mentira deslavada, causa de decepções eternas e repetidas. Ou o nosso povo aprende ou vai se ferrar sempre nas mãos dos oportunistas de plantão, aqueles que conhecem bem e manipulam estes interesses mesquinhos. Até quando viveremos de ilusões que se transformam rapidamente em frustrações? Já era hora de aprendermos que estamos perdendo mais do que ganhando quando vendemos tão barato o nosso voto.

          O compromisso coletivo com a cidade inclui a profissionalização máxima do serviço público. Para que possamos TODOS NÓS desfrutarmos dos benefícios que podem e devem ser oferecidos pelos serviços públicos, temos que ter a consciência de que os serviços públicos são um direito de todos os seres humanos, nascidos ou não na cidade  onde estejamos reivindicando. Devem ser oferecidos por quem ENTENDE do que esteja fazendo e não por quem votou no político A ou B e nasceu na comunidade. Dessa maneira, temos que valorizar e reconhecer os profissionais de verdade em cada área, não importando sua posição política nas eleições ou se nasceu em Bocaina de Minas ou não. De que adianta um nascido em Bocaina servir como médico ou professor, como pedreiro ou profissional da área administrativa, como advogado ou mecânico, se não consegue ou não sabe fazer estes serviços direito????  Quem será prejudicado? TODOS OS CIDADÃOS que precisarem deste serviço público, que o sustentarem para isso através dos impostos, que forem expostos num momento de necessidade muitas vezes crucial para suas próprias vidas.

      Nunca é demais lembrar dos médicos que não eram médicos... pessoas de branco com carimbo de médico de outro estado, gente morrendo por falta de hospital ou socorro adequado... tantas e tantas barbaridades que vivenciamos juntos, os dramas, as mortes, as condenações em vida. Ou então dos bons professores, dos enfermeiros competentes, dos motoristas que sabiam dirigir com responsabilidade, etc., que foram perdendo seus empregos e substituídos por outros, que também não duravam tanto porque o prefeito achava que deveriam agora perder o que ganharam para iludir outro otário, e mais outro, e mais outro? É do conhecimento geral que seu costume era tirar de um para pagar o devido ao outro, sempre sujeitando os ambientes de trabalho a um mal-estar brutal. 

      A profissionalização do serviço público requer concursos públicos períodicos para que o servidor tenha a clareza de sua estabilidade e da perspectiva de vida que possa usufruir a partir daquele serviço prestado. A insegurança quanto ao dia de amanhã, se vai continuar prestando o serviço ou não por conta de perseguições políticas de autoridades mal intencionadas, faz com que nenhum profissional sério se motive a prestar o melhor de si à comunidade. A lógica da iniciativa privada não pode dar certo, não é a melhor para o serviço público nem pra sociedade, como muitas vezes denuncio e testemunho acontecer no Rio de Janeiro. Por outro lado, estabilidade não é impunidade. O mau profissional deve ser julgado por suas atitudes profissionais e afastado a bem do serviço público. Ninguém que seja concursado deve ser afastado, transferido ou maltratado de suas funções por questões políticas. O governante do momento tem que entender que precisa negociar sempre, tratar o funcionalismo com respeito e consideração, pois só assim este será o seu principal aliado nas políticas que deseja implementar frente às necessidades da população. Por isso, tem que haver plano de carreira decente para cada categoria profissional. Isto motiva o servidor, cria uma estrutura de conhecimento sobre a função desempenhada, promove saudavelmente a troca de informações importantes até mesmo para os contratados novos. Assim, quem chega no serviço não começa do zero mas de uma estrutura que o concursado, por tempo de serviço na função e experiência acumulada, pode proporcionar.

         Com estas ponderações, corrigindo injustiças da mentalidade política tradicional de Bocaina, acredito que a cidade como um todo melhorará e muito. Tem potencial pra isso. Tem uma natureza privilegiada e um povo maravilhoso, que só precisa entender que onde, às vezes, pensa que está ganhando, acaba mesmo perdendo. Não tem por que razão insistir na falsa ideia de que o direito é um favor a ser concedido pelo político eleito apenas a quem votou nele. Isto cria dificuldades desnecessárias para todo mundo. O direito é uma obrigação, um compromisso do político e dos servidores públicos, para com todos os que precisam e a ele recorrem. É para isso que servem a política, o governo, as instituições públicas. Se todos votam e todos sustentam a prefeitura, ela tem de servir ao povo e não à meia-dúzia que enriquece o suficiente para não conseguir gastar em vida enquanto a maioria fica implorando favores na pobreza. Para mudar, você tem que conhecer bem como funciona a prefeitura e avaliar a trajetória, as alianças, o compromisso que cada um dos pretendentes às eleições de outubro tem com o coletivo, com a cidade, com os serviços públicos que nos servirão nos próximos anos.

      Quem ganhar, por exemplo, vai ter de desenvolver uma política de geração de empregos fora da prefeitura. Esta não pode carregar todo mundo nas costas, na própria folha de pagamentos, mas tem a obrigação de estimular e buscar alternativas de emprego na formação e/ou parceria com  cooperativas, ONGs, empresas privadas, etc. Vai ter de capacitar pessoal para as profissões que precisam ser alimentadas, que constituem vocação do município. Isto a prefeitura pode buscar de fora, promover, articular, fazer acontecer. Ela tem que parar de exportar jovens para Resende, São José dos Campos e Aparecida. Tem que oferecer atividades culturais na cidade, esportes, formação profissional, festas e políticas voltadas para este segmento nas comunidades.   

      E mais: a população terá que cobrar do eleito postura firme durante os 4 anos de seu mandato. Não é só votar e acabou: tem que cobrar, reclamar, reivindicar, negociar. Exigir a profissionalização e a qualidade do serviço público. Exigir transparência, direito à participação popular nos rumos de governo. Sabemos nós o quanto o poder é perigoso, o quanto ilude quem é seduzido por ele, ainda que consciente de que é temporário. Não cabe a nós lamentar, ter medo, achar que sempre foi assim e não tem jeito. Jeito tem sim desde que não sejam os mesmos a gozarem do poder, agindo como bem entendem, impondo medo ao povo quando a relação deve ser o contrário: a de respeito máximo pelas diferenças e por quem sustenta o poder público de uma maneira geral e igualitária. Temos de dizer em alto e bom tom que não temos medo de perder o direito à saúde, aos medicamentos, ao bolsa-família, dentre outros benefícios, porque estes não são favores a quem votou no eleito mas sim direitos de todos, dever dos governantes.