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Niterói, Rio de Janeiro, Brazil
Estudante, professor e agente da História de seu tempo. Deformado pela Universidade Federal Fluminense, pela capacidade de resiliência em torno de causas justas, pela coragem e pela sinceridade. Dinâmico, espiritualista, intuitivo, libertário, imprevisível. A leitura de seus textos é recomendada a quem faz uso de covardias.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Origens e desafios históricos do Núcleo Barreto

Para falar do projeto de rádio comunitária que ajudei a construir no bairro do Barreto, Zona Norte de Niterói (RJ), em 2001, e que completa, neste ano de 2011, DEZ anos de fundação e existência, preciso me reportar às razões anteriores que impulsionaram diversos moradores daquele bairro à necessidade de um veículo de comunicação alternativo. Em síntese, o processo histórico de lutas comunitárias, a minha participação política que se iniciava enquanto adolescente do bairro, o projeto de sociedade alternativa que idealizávamos em grupo, a necessidade de um veículo que difundisse livremente nossas opiniões e anseios, a concretização do sonho, dificuldades e obstáculos enfrentados, conquistas coletivas e, por fim, os rumos que me levaram a compreender que era hora do meu afastamento.

Sem dúvida alguma, um dos maiores projetos que realizei na vida, verdadeira revolução no meu jeito de pensar e agir, e também relevante contribuição à história da periferia e do município que merecia um livro à parte. Um “post” no meu blog é pouco, pouquíssimo, quase um suspiro de tudo o que rolou. Talvez, um dia, a Rádio NB FM seja reconhecida a este ponto mas, para tal, mais ou menos como tudo que é genial e significativo na civilização judaico-cristã, será preciso a morte de todos os que dela participaram. E tempo, muito tempo. Reitero que, apesar do meu afastamento definitivo do projeto há cerca de cinco anos, sempre nutri a ideia de que a obra coletiva à comunidade pertence, não alimentando mágoas, rancores ou apegos pessoais quanto aos rumos que tomaram os que nela prosseguiram. Isto é mais importante do que qualquer sentimento ou episódio que narrarei aqui, concordando ou discordando cada qual de cada ponto. Espero não cometer injustiças. Fato é que a experiência desta rádio comunitária mudou minha vida e a vida está aí para ser vivida.

Pois bem, o ano de 1996 marcou minha iniciação na preocupação com causas coletivas. Com 16 anos de idade, eu não suportava mais ver (e muito menos fingir que não vejo o que ainda existe e é assustador pelo comodismo, pela ignorância e pela sensação idiota que o nosso povo ainda tem de que está se dando bem individualmente com o desatre coletivo!) as atrocidades e as inconsequências cotidianas das injustiças do mundo capitalista. O “sistema do mal-estar coletivo e individual profundos”, como mais tarde o cunharia, é muito mais nocivo quando vivido na condição periférica do terceiro mundo. Pior ainda se, dentro de tamanha desigualdade social cultivada no terceiro mundo, o sujeito toma a consciência de si e para si do quanto faz parte da coisa,  que tudo isto é fabricado e planejado, aproveitado e reaproveitado, naturalizado e reduzido incessantemente como se nada pudéssemos contra. Ao sujeito das periferias, diante de tudo, só resta a resignação ou a criminalidade. Ambas suicidas e genocidas. Meu grupo de amigos de infância, graças a Deus, acreditava numa terceira possibilidade.

Ouvíamos Raul Seixas, Cazuza, Legião Urbana, Paralamas, Iron Maiden, Alice Cooper, Ozzy, etc., etc., etc. O rock´n roll nacional e internacional nos alimentava questionamentos, reflexões, críticas e mudanças de atitude. Aquilo fervilhava na cabeça com muito álcool,  cigarro e nenhuma outra droga (na época e na nossa faixa etária, isto ainda era possível mesmo na periferia). Olhávamos o nosso redor e não aceitávamos a coisa pública abandonada como natural. Era como se nos sentíssemos afetados por uma surra ou por uma mãozada na própria bunda de quem a gente nem conhecia ou contra quem nem tinha feito nada. Comparávamos a situação de nosso bairro à situação da zona sul niteroiense e quanto mais presenciávamos a ostentação e o luxo de lindos condomínios, de obras e equipamentos públicos em permanente manutenção, a sinalização perfeita e o asfalto pintado, as áreas de lazer e as casas de show (tudo por lá, é óbvio), mais queríamos entender por que o Barreto era o local do cemitério municipal, do hospital de tuberculosos, das calçadas e ruas esburacadas, das enchentes violentas, do comércio decadente e dos imóveis históricos, dos velhos tempos de vila operária, abandonados. Muitos da Zona Sul achavam (e muitos ainda acham) que o Barreto pertencia (ou pertence) a São Gonçalo, cidade vizinha economicamente mais pobre, e esta percepção soava aos barretenses como preconceituosa. No fundo, no fundo, um preconceito também dos barretenses contra os próprios vizinhos gonçalenses. Mas o fato é o que o Barreto pertencia (e pertence) a Niterói, pagando elevado pelo IPTU não correspondido da cidade. E que os conterrâneos da Zona Sul também não conheciam nada (e, talvez, muitos ainda não conheçam) sua própria cidade por completo. Muito menos a cidade vizinha, o que os levavam (ou ainda levam) a uma segregação urbana inacreditavelmente preconceituosa.

Neste clima, a Associação de Moradores do Barreto, por volta de 1996, estava praticamente desativada. Alguns moradores e o meu grupo de amigos estavam interessados em reativá-la. Queríamos reivindicar e realizar muitas coisas no bairro, ressaltando aspectos positivos de sua história, de seu patrimônio, costumes e moradores. Chamar a atenção do poder público, denunciar a segregação sócio-espacial dos investimentos públicos da Prefeitura de Niterói, construir e/ou preservar elementos cruciais da identidade comunitária. Na associação de moradores, uma entidade aberta a todos os moradores por força de seu próprio estatuto, esbarraríamos na necessidade permanente de ter a maioria dos votos de quaisquer moradores, mesmo os “bem pagos”, sempre que tentássemos aprovar um projeto coletivo. Enquanto esteve desativada, assim como toda a classe política “eterna” (familiar, tradicional, hereditária, aristocrática) da Província Fluminense desejava manter, ninguém comparecia nem puxava reuniões. Quando passamos a fazê-las, percebemos que logo poderíamos encontrar resistências e por tudo a perder. Antes de encontrar claques (plateias arranjadas, pagas por algum político) prontas a abafar nosso movimento, tivemos de buscar alternativas.

Entendemos, primeiro, que deveríamos nos organizar melhor. Constituímos, então, o NÚCLEO BARRETO – GRUPO DE FORMAÇÃO POLÍTICA E SOCIAL – já no mesmo 1996. Não éramos institucionalizados ainda. Informalmente, reuníamos um grupo na casa de um, na casa de outro, na praça ou na rua. Todas as necessidades e soluções para o bairro eram levantadas e discutidas paralelamente à associação de moradores, a qual participamos até compreendermos que era melhor garantir a autonomia de realização do grupo que ficar em longos embates com quem teria o mesmo direito ao voto na associação, estava afim de atrapalhar e poderia por em risco a concretização dos nossos sonhos. É um princípio dos libertários, o de romper com coletivos formais (instituições coletivas) quando acabam asfixiando a coletividade de propósitos desejados, aquilo que estava sendo executado. Nesta época, nem tinha noção do que havia de profundidade ideológica no nosso feito. Não havíamos estudado o anarquismo ainda mas já sabíamos bem o que queríamos. E ninguém iria sacanear nossas ideias para manter o status quo da cidade, este sim extremamente indesejável.

Lembro-me que um dos questionamentos mais corriqueiros das pessoas era quanto à nomenclatura “NÚCLEO”. “Mas... por que ‘núcleo’?”, perguntavam. “Núcleo de quê? De alguma organização internacional ou nacional?”, indagavam os mais curiosos. Respondíamos que éramos um núcleo que não era representativo de nada mas de si mesmo. Não estávamos vinculados a partidos políticos nem a organizações terroristas, nada a mais que nós mesmos do Barreto. Decerto, alguns de nossos membros – não todos – eram filiados ao PT. Mas o “Núcleo do Barreto do PT” tinha outra funcionalidade, outra organicidade, outra atuação destacada. Como eu também integrava o núcleo petista, não posso deixar de assumir que havia sim o desejo de que todos do NÚCLEO BARRETO – GRUPO DE FORMAÇÃO POLÍTICA E SOCIAL - se filiassem e participassem do “Núcleo do Barreto do PT” (estratégia até hoje utilizada pelos partidos de esquerda para se aproximarem de pessoas independentes). Mas isto não ocorreu, nós também crescemos em insatisfação com o partido e o próprio núcleo petista viria a se dissolver. Todos os seus membros se decidiram pela desfiliação coletiva do PT em 1998.

O motivo? Algo que perpassava uma questão local e que também se refletia nas questões estadual e nacional: nossa oposição ao “eterno” governo do PDT em Niterói, somada com a crescente (e indesejada) adesão do PT local e ao desastre que foi a direção nacional do partido (na época, o presidente nacional era José Dirceu) intervir no diretório estadual do RJ, quando este, por decisão soberana de seus filiados, apoiara a candidatura de Vladimir Palmeira para governador. Em nome da aliança Lula/Brizola em 1998, o PT do RJ tornava-se obrigado a apoiar o então candidato a governador Garotinho, indicando como vice Benedita da Silva. A história mostraria, tempos depois, que estávamos certos. Este episódio foi o ápice da insatisfação do “Núcleo do Barreto do PT” também, que já se incorporava à frente de esquerda “Reage PT” e ao “Coletivo de Ambientalistas” dentro do PT de Niterói, quando decidiu pelo rompimento. No nosso caso, o grupo independente foi quem cresceu e prosperou, institucionalizando-se mais tarde, mais precisamente em 2001, quando tornamos o NÚCLEO BARRETO – GRUPO DE FORMAÇÃO POLÍTICA E SOCIAL – na ONG NÚCLEO BARRETO – Associação de Formação Social, Cultural e Ambiental do Barreto.

A formalização enquanto ONG atendia plenamente o que precisávamos para concretizar um veículo de comunicação comunitário mais eficiente que os diversos jornais, panfletos e boletins impressos do grupo. Poderíamos nos adequar melhor para receber recursos captados oficialmente, tanto do poder público quanto da iniciativa privada, desenvolvendo e divulgando outros tantos projetos de intervenção cultural. Além disso, estaríamos devidamente protegidos pela composição dos sócios, evitando a ingerência de políticos locais como acontecia numa associação de moradores. A ONG NÚCLEO BARRETO foi fruto de um amadurecimento político quanto à realidade da comunidade, do país, nossa (a financeira do grupo constituinte) e de estudos que levaram um ano entre discussões, levantamentos e sugestões várias para que pudéssemos levar adiante nossos objetivos históricos. Não constituímos uma ONG para que ela fosse a razão de ser do nosso movimento espontâneo mas sim seu braço institucional, seu suporte jurídico e sua forma de lidar com um mundo que nos exige determinadas formalidades para permitir a materialização das coisas vislumbradas.

Sendo assim, seria de vital importância o caráter participativo e inclusivo de nossas intervenções na comunidade. Em regime exclusivo de voluntariado por muito tempo, perseguindo com insistência a efetivação de projetos sociais elaborados, que previssem a contratação e a remuneração por serviços prestados anos depois das primeiras ousadias, desdobramo-nos em mutirões, doações, empréstimos pessoais, permuta de imóveis cedidos e muita dedicação de quatro diretores e um  corpo de quase cento e cinquenta sócios. Os diretores eram Igor Martins, Fernando Calado, Marcelo Silveira e Rodrigo França. Mais novo do grupo, eu tinha 21 anos de idade na época.



CONTINUA NO PRÓXIMO "POST"

sábado, 14 de maio de 2011

A TV Comunitária de Niterói e a Radiola na Praça

No último “post”, prometi abordar o começo de minhas aventuras na Rádio Comunitária Núcleo Barreto (ou NB). Vou tratar disso em próximas oportunidades. Em tempo, não poderia deixar de falar de duas iniciativas fascinantes que rolaram ainda nos tempos de estudante na UFF e que colaborei entusiasmado em seus primórdios: A TV Comunitária de Niterói, canal 14 da NET na cidade, e a Radiola na Praça, veículos democráticos com formatos diferentes do habitual que refletiam (no caso da TV, que ainda está rolando, refletem) o desejo dos movimentos sociais de se fazerem ouvidos de verdade, sem as restrições ou armadilhas impostas pelos interesses políticos e econômicos covardes dos proprietários da grande mídia.

Considero ambas as lembranças importantíssimas, tanto pelo que presencio nas emissoras de TV e rádio comerciais em voga, quanto pelo que se noticia de episódios recentes envolvendo a Praça de São Domingos.  
   
O ano era 2000. Maurício Viviane e Eliane Slama formavam um casal revolucionário de postura bastante polêmica dentro da universidade. Maurício havia estudado Cinema em outros tempos mas não havia concluído a graduação. Criou uma produtora de vídeo (a TV Caos) que se incumbia de documentar diversas ações de movimentos sociais no país ao longo dos anos 90, uma tarefa que, ao meu ver, sempre foi digna de louvores. Eliane Slama, sua esposa, era (e ainda é) servidora técnico-administrativa da UFF. Na época, diretora do Sindicato dos Trabalhadores da UFF (o SINTUFF), sempre sensível e presente às demandas apresentadas pelo movimento estudantil local e pelos movimentos sociais do mundo. Parece-me que se candidatará às próximas eleições do sindicato neste ano.

Por mais que se discorde de métodos ou avaliações dos dois, ninguém pode deixar de respeitá-los pela ousadia e pela sensibilidade com que conduziram suas empreitadas por onde passaram. Aqui lhes rendo minhas homenagens. Maurício sempre esteve certo quanto à necessidade que os movimentos sociais têm de veículos de comunicação que lhes registrem as verdadeiras intenções. Pela conscientização política hoje, pelas revoluções sociais que almejamos e pelo registro histórico que amanhã servirá de debate aos que procurarem compreender o que pensamos, o que tentamos e o que fizemos em nosso tempo e espaço de ação coletiva.

A TV Comunitária de Niterói implementou inovações estéticas e de conteúdo significativas, ainda que os recursos fossem parcos e a disponibilidade de voluntários menor ainda. No começo, era difícil uma sede, equipamentos apropriados e profissionais da área de comunicação social que se dispusessem a colaborar, ainda que a Direção do Instituto de Artes e Comunicação Social (IACS) da UFF da época fosse a primeira a permitir a utilização de uma de suas salas e algumas máquinas para os primeiros programas. Saudações aos professores Antônio Serra e Sérgio Santeiro por significativo empenho em um tempo em que discordávamos politicamente de uma série de posturas internas na UFF. Tiveram a sensibilidade de permitir o contraditório e, por tal, já merecem nossas honrosas recordações. Não é coisa que se vê em qualquer professor universitário por aí...

Lembro-me, por exemplo, das gravações na Praça Arariboia, onde fui diversas vezes repórter que entrevistava pessoas ou mediava debates em plena praça pública. Assim como eu, Rodrigo Santarossa, Fabiano (sempre polemizando com seu próprio partido, o PSTU, à frente do DCE), o próprio Maurício Viviani, a Eliane, Luisinho (estudante da Produção Cultural, hoje servidor da MultiRio), estes últimos já se revezando entre a condição de cinegrafistas, editores e repórteres.

Na verdade, uma característica do Maurício (não à toa, certamente a superação da divisão social do trabalho capitalista na prática) era promover o conhecimento e o revezamento de todas as etapas de produção entre todos os membros voluntários. Assim, quem fosse repórter um dia, aprendia e assumia funções de filmagem no outro e assim por diante. Difundir o conhecimento e compartilhar de funções variadas sempre evitou dependências e hierarquizações de indivíduos nos movimentos sociais, uma crítica que os libertários sempre produziram mas que, de uns tempos para cá, acabaram perdendo legitimidade, sobretudo quando carecem de uma proposição alternativa como a citada ou quando não exercitam a práxis destas mesmas alternativas que apontam. Observem como se construía a TV Comunitária e a Radiola na Praça, sempre atentas à participação horizontal compartilhada de atores e público nas intervenções causadas. Nem por isso, por arroubos e contradições, deixamos de ser acusados de vaidade, personalismo ou aproveitamento inadequado da coisa pública.   

Cabines de vídeo eram instaladas na praça, onde o cidadão comum tinha o direito de se expressar livremente por um minuto numa cabine fechada em que tinha ele, um banquinho e uma câmera, sobre o que lhe afetasse o juízo. Diversos artistas sem mídia, moradores de Niterói, profissionais de várias áreas e membros de movimentos sociais da cidade receberam destaque, foram entrevistados ou se apresentaram na programação sem cortes temerários quanto ao conteúdo.

Lembro-me do candidato a prefeito pelo PRONA, antigo partido do Enéas, vereador e delegado Renée Barreto, ter fugido de um dos debates que havia confirmado presença e seria realizado na Praça Arariboia. Pouco antes de começarmos, recebemos a notícia de que o candidato estava fazendo corpo-a-corpo em frente ao Terminal Rodoviário João Goulart no horário do debate. Logo ali ao lado, na barba da produção! Rodrigo com a câmera e eu com o microfone fomos imediatamente ao local tirar satisfações do candidato. Prontamente, ele nos atendeu e tentou se justificar numa tremenda saia-justa.

Este grupo, mais tarde, iniciaria outro projeto na Praça de São Domingos: a “Radiola na Praça”. Inspirada no modelo de radiolas de São Luís do Maranhão, a proposta consistia em garantir um equipamento de áudio na praça, semanalmente às noites de terça-feira (lembro que alteramos os dias da semana em alguns momentos, de acordo com a conveniência do público), que pudesse tocar sons gravados sugeridos pelo povo na hora (o sujeito trazia seu CD e entrava com sua proposta numa fila de sugestões, um modelo que chamávamos “música por demanda”). Um locutor apresentava a radiola como se estivesse em um autêntico programa de rádio comum e ao vivo, onde também eram apresentadas bandas alternativas, poetas, pensamentos e debates rápidos. Criávamos assuntos, levantávamos questões, informávamos eventos e provocávamos conscientização política, jamais deixando que apenas as músicas rolassem sozinhas. No começo, sempre de improviso, eu fazia a locução. Depois, para que evitássemos acusações de personalismo, Luisinho passou a realizá-la. Os ambulantes eram os nossos maiores patrocinadores enquanto os comerciantes, tomados por ódio da concorrência que começava a se instalar com suas barraquinhas na praça, queriam mais era nos ver pelas costas. Bêbados dançavam na frente do palco que era ao nível do chão, demonstrando que estávamos prontos para a ausência de hierarquia. Muitos tomavam o microfone e intervinham. A Barraca do Primo nos cedia o ponto de luz e o casal que mantém, até hoje, sua barraca de lanches na outra extremidade da praça, nos custeava x-tudo e cachorro-quente como apoio cultural. Outros, cerveja. E ainda outros, cinco reais. Os comerciantes, nada. Quando muito insistíamos, o Tombadilho ou o antigo dono do Pardal (hoje Bar Gay), também cediam uns cinco reais. Uma parte do equipamento era alugada e transportada com recursos próprios, o que arrecadávamos nunca era suficiente.

O incrível é que não presenciávamos brigas constantemente nem ninguém vinha querendo dar tiro, matar alguém na praça. Não me lembro de um público selecionado, de artistas, intelectuais e remediados que gravitassem em torno da UFF apenas. Lembro-me de gente muito pobre e humilde, de marginais e intelectuais convivendo, como toda boa praça pública sem grades deve ser digna de receber. O que acontece hoje é fruto da época atual, onde o egoísmo prevalece em tudo, até na universidade que deveria zelar pelo contraditório do pensamento único hegemônico, pelo menos na cidade em que está sediada. Não há local isento de violência quando a sociedade como um todo se encontra doente de egoísmo. Segregar/reprimir é ilusório e temporário sempre, pano que abafa mas não resiste aos enormes traumas que cria. Nossa proposta de comunicação era também uma proposta de envolvimento e convivência com os dramas que afligem nosso povo, buscando dialeticamente aprender e ensinar acerca das soluções cabíveis. Vejo que alguns setores da grande mídia vêm paulatinamente reconhecendo esta necessidade, menos pelo amor ao próximo (necessário, primordial, única saída para os dramas sociais) e mais pelas dificuldades cotidianas que a corrosão do tecido social vem causando a todos, com doses elevadas de depressão, insegurança íntima e violência.

Muitos exemplos de aplicação dos métodos de aproximação  e identificação dos sujeitos com sua realidade concreta, essência que constitui a razão de ser das mídias alternativas, já podem ser vistos na grande mídia, como os programas sobre a periferia da Regina Casé ou o quadro “Parceiros do RJ”, apresentado pelo RJ TV, ambos da Rede Globo. O que não existe – porque não é propósito das grandes mídias alcançar - é a aproximação e a identificação com lutas, utopias e sonhos alternativos ao câncer social do capitalismo. Eis a segunda razão de ser, intrínseca aos movimentos de comunicação independentes, que jamais poderão abordar uma greve ou um protesto democrático como “criadores de dificuldade para o trânsito de veículos automotores”, por exemplo.                 

Tanto a TV Comunitária de Niterói quanto a Radiola na Praça surgiram com ambos os propósitos: 1) Olhar e abordar o povo como ele é e sem inculcar na cabeça ideais consumistas de vida, moralistas ou padronizados por reprodução de estrangeirismos, inalcançáveis à maioria ou alcançáveis apenas ao custo de métodos criminosos e da hipocrisia nas relações;  2) trazer nossa população para a consciência do absurdo em que naufragam milhões de vidas submetidas à exploração de poucos, ou seja, que há uma razão maior para tamanhos retrocessos históricos no respeito às diferenças e ao próximo. Que esta razão se acomoda sob construções mentais patrocinadas por covardes. E que tudo isso não é natural e sim uma opção política construída coletivamente.

Espero que, um dia, sindicatos, partidos de esquerda, ONGs, libertários, associações de moradores, associações de classe e todos que lutam em instituições sérias e inspiradas pela mudança do paradigma “dominadores X dominados” possam se juntar e financiar projetos ousados de comunicação alternativa acima de suas peculiaridades e interesses mais imediatos. Por uma causa maior, a luta anti-capitalista, a necessidade de conter o câncer social deste modelo econômico que não se sustenta sem mal-estar profundo, todas as entidades e indivíduos com capacidade de financiamento deveriam se unir, reivindicar concessões públicas de TV e de rádio e estruturá-las de verdade, debatê-las e planejá-las a fundo, quanto aos propósitos, aos conteúdos, às abordagens e às estéticas. No dia em que tivermos um canal de televisão não-estatal aberto, dirigido e financiado pelo conjunto dos movimentos sociais revolucionários, bem trabalhado e atraente, apresentando cotidianamente ao povo nossa visão de mundo sobre todos os acontecimentos e temas da vida social, certamente teremos uma sociedade mais saudável. Nossas lutas serão mais legitimadas e nossos governantes, se continuarem existindo, ainda sim, serão outros. Menos herdeiros do poder, aliviando nossa república de ser tão monárquica.

O que não dá mais é falar para poucos quando os nossos inimigos falam para muitos. Todo dia, suas versões dos fatos sociais, selecionados entre o que se pode ainda citar, são repetidas nas esquinas, nos locais de trabalho, nas escolas, nos órgãos públicos e até nos movimentos sociais. Vejo uma tendência desigual para o tratamento de desgraças e não acho que isto seja apenas “reflexo da realidade em que vivemos” ou “porque é o que dá audiência, é o que o público gosta”. Onde há espaço para o contraditório? Que democracia é esta? Será que não há uma propaganda generalizada da insegurança íntima? Será que isso não é interessante para os covardes e suas covardias - mais gente frágil, mais gente com medo, mais delatores, mais individualistas? É por essas e outras que nem lideranças políticas novas emergem, sobram herdeiros em todas as áreas profissionais que não largam o osso e nem sei se são tão competentes assim como se carregassem excelência no sangue. A comunicação de massa é flagrantemente nazi-fascistoide. Que fazer? Na hora que o Governo Dilma começar a discutir concessão pública de canais de TV e rádio, essa turma poderosa que já acusa tentativa de censura pelo governo e tenta reduzir o debate, não terá alternativa nem concorrência entre o seu próprio modelo privado e o modelo estatal.
 
Cadê nós?        

sábado, 7 de maio de 2011

A SENZALA e o costume docente de escravização estudantil

Em maio de 2001, há exatos 10 anos, nós, os estudantes do ICHF-UFF, fizemos uma ocupação diferente no canteiro em frente aos blocos O e N do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia (ICHF) da UFF. Aproveitávamos o 13 de maio, data lembrada pela abolição da escravatura assinada pela Princesa Isabel em 1888. Dessa vez, optamos em não permanecer acampados. Resolvemos instalar uma tenda, um telão e promover manifestações por uma semana, aproveitando-se do hábito que se criou em torno dos palcos livres no Tablado Leandro Konder. A esta ocupação chamamos de “SENZALA”.

Era uma referência à data histórica mas também uma analogia contemporânea à relação entre professores e alunos na UFF, sobretudo ao exercício costumeiro do patrimonialismo no uso da oferta e seleção para contemplados em bolsas, na contratação de estudantes em espaços privatizados da universidade e também na manipulação de interesses políticos junto ao movimento estudantil. A proposta da SENZALA era denunciar que estávamos nos tornando escravos, ainda que remunerados (ou precariamente remunerados), o que levantou questionamentos conceituais à época, já que “escravo”, conceitualmente falando, não é condição de trabalhador que recebe qualquer remuneração pelo seu serviço. Mas a denúncia abordava o vínculo ideológico e pragmático entre professores-senhores e estudantes-escravos que estava subentendido à contemplação com bolsas ou contratos temporários na universidade, algo mais próximo da lógica patrimonialista que corrompe as relações entre servidores públicos e cidadãos diante do que a lei prevê para o uso democrático e igualitário do patrimônio público. Favorecimentos pessoais, conchavos, desvios ou privatização de atribuições e finalidades no serviço público, as formas mais comuns de manifestação do patrimonialismo brasileiro, também eram (e ainda são) praticados na academia brasileira e o escandaloso é que determinavam (e ainda determinam) desde rumos tanto do movimento estudantil, do movimento sindical, quanto da pesquisa científica e do ensino desenvolvidos pelas universidades públicas brasileiras.   

Sempre questionei – e não era o único - o excessivo poder dos professores na estrutura de funcionamento da universidade. Só eles podem se candidatar e se eleger aos cargos de chefia e direção dos órgãos executivos universitários (chefia de departamento, direção de instituto e de centro, reitoria). Por tal, ganham gratificações e comissionamento em seus salários. Nos cargos colegiados (consultivos ou deliberativos de normas internas), possuíam a prerrogativa de mandatos biônicos (quem já era diretor de centro, por exemplo, tinha cadeira cativa no conselho universitário) e o peso desigual de 70% das vagas, enquanto os outros 30% eram divididos entre servidores técnico-administrativos e estudantes. Não há remuneração a mais para docentes ou servidores que integrem mandatos nos órgãos colegiados, assim como os representantes estudantis são voluntários, ou seja, não recebem nada.
Não sei como está agora, já me disseram que, com a última reforma estatutária, houve a garantia da paridade representativa (as três categorias – docentes, discentes e servidores técnico-administrativos - têm hoje o mesmo peso).

Se assim vem sendo preenchido e efetivamente cumprido, trata-se de um avanço em relação às lutas que travávamos em 2001. Mas a qualidade da atuação política ainda é, sem dúvida alguma, comprometida pela omissão ou complacência da maioria dos estudantes. E uma das razões se situava – não sei se ainda podemos afirmar o mesmo nos dias de hoje -  justamente na relação, digamos, promíscua entre as condições subliminares (ou até objetivas) impostas por professores inseguros para o sucesso de seus próprios alunos na carreira acadêmica. Refiro-me a histórias de perseguições conhecidas ou veladas que fincam os tentáculos patrimonialistas nas avaliações corriqueiras de trabalhos acadêmicos, perpassam a oferta de bolsas e contratos temporários, a seleção de bolsistas e de novos professores por concurso público, chegando até a descartar inovações ou rumos importantes da pesquisa científica para a sociedade que nos financia. Isto perpetua, por exemplo, o expurgo de gênios e obras revolucionárias nas ciências, algo que costumamos atribuir apenas a caprichos de tempos remotos e autoritarismos passados, mas que se torna presente não tanto de fora para dentro quanto se manifesta, muitas vezes, de dentro para dentro da academia.

Afirmo seguramente que sacrifiquei minha passagem pela academia por propor, denunciar e fiscalizar costumes patrimonialistas na universidade que tanto amei e defendi pública, gratuita e de qualidade. Ora, se só vai ter bolsa, nota, contrato ou aprovação em concurso público, aquele que agradar ou atender interesses particulares de professores, a universidade se nivela por baixo, fica comprometida pelo que ensina a criticar e a transformar na sociedade, torna-se aristocrática e reprodutora de heranças equivocadas e injustas, descumpre a lei e os princípios democráticos, extermina diferenças, perde moral. Na minha avaliação à época, caminhávamos para uma fábrica de diplomas que em nada se diferenciava da qualidade das instituições privadas.  

A proposta da SENZALA aconteceu em meio a uma percepção empírica que tive quando percebi que não bastava me opor e criticar nossos governantes, sem dúvida alguma parceiros e patrocinadores de privatistas e desagregadores das instituições públicas, sem apontar e cobrar quem são os seus aliados, os seus adesistas que não se contentam ou temem mesmo o status quo com a estabilidade dentro do funcionalismo público. Subservientes com garantias diferenciadas no mercado de trabalho do país? Nunca aceitei professores que rejeitam alunos por elaborarem críticas ou propostas inovadoras, aquelas que seu intelecto conhecia ou intuía ou aquelas que nem sequer passassem pela sua cabeça, por pura vaidade, insegurança ou interesse político mesquinho. Estes se tornaram exemplos do que jurei não ser enquanto professor. Rechaçaram comentários, menosprezaram minha capacidade, negaram-me notas justas diante da turma, quiseram cassar minha representatividade enquanto estudante, negaram-me bolsas, tentaram oprimir convidados de semanas culturais organizadas, agendadas e autorizadas, mandaram recados por bolsistas de que estavam dispostos a tudo para me perseguir e assumiram até um jubilamento arbitrário, tendo que anulá-lo por recurso à PROAC, o que me conduziu de volta mas sem a mesma empolgação pela academia.

Talvez estes professores (que não são professores) contassem com a minha punição pelo mercado de trabalho, do qual não previa nem mensurava tamanho o laço de dependência ou subordinação às suas certificações. Isto sim, uma autocrítica concreta. Fui longe, dei aula por nove anos sem o diploma, virei lenda mas reconheço que isto me limita sobretudo pela impossibilidade de prestar concursos públicos na área. Sou fruto de um sistema completamente perturbado por governantes e profissionais inseguros, além de um povo individualista e moralista, indiferente ao que verdadeiramente lhe libertaria de suas próprias opressões. A escola brasileira ficou tão hostil aos bons professores quanto aos bons alunos, tornou-se uma instituição esvaziada de seu sentido originário, mantida mais por culpas moralistas da sociedade e necessidades financeiras de seu corpo do que pelo propósito de construir grandes cidadãos e excelentes profissionais. Quanta irresponsabilidade! Foram as brechas deste caos que me oportunizaram ser professor sem diploma ao mesmo tempo em que presenciei a evasão de diversos diplomados por divergências políticas, falta de pagamentos, salários aviltados, violência urbana e desinteresse de alunos. Muitos, aliás, tentam voltar para a carreira acadêmica, onde prorrogam um pouco mais sua existência nas bolsas de mestrado, doutorado, pós-doutorado, etc. É claro que tentei fazer o melhor mas, por diversas vezes, fiquei pensando: se formados e pós-graduados passam pelas mesmas condições humilhantes as quais enfrentei, que me adianta tamanho esforço? Parece que lutamos contra nós mesmos.

Como não conseguimos uma mínima identidade enquanto professores, como não nos respeitamos e nos afirmamos perante à sociedade à altura do que representa e necessita um bom professor, terminamos disputando migalhas na academia, procuramos um bom casamento de suporte ou mudamos de profissão.    

A SENZALA aconteceu em meio ao seguinte ambiente do ICHF: crise no departamento de História levava professores a acusarem-se mutuamente pela forma como ingressaram no próprio departamento. Alguns manifestavam oposição ao direito do estudante da graduação de se representar nas reuniões de departamento porque havíamos conquistado vitórias importantes. Vitórias contra propostas de privatização do espaço público pelos professores. Uma empresa júnior, de nome Analítica Consultoria, havia sido criada e instalada no ICHF pelos professores da Ciência Política. Fazia pesquisas de opinião, contratada por grandes veículos de comunicação privados. Utilizava-se do espaço físico da universidade e da mão-de-obra barata de alunos necessitados nas pesquisas de opinião mas os professores, além de restringirem ou omitirem satisfações à comunidade acadêmica pelas práticas, pelo custeio e pelos lucros da empresa “incubada”, pareciam exigir, de forma velada, determinadas contrapartidas dos alunos contratados pela empresa. Esta empresa acabou incorporada como órgão institucional da UFF – o Instituto DataUFF -, deixando ICHF e ganhando sede própria no centro de Niterói. Inúmeros foram os casos de bolsistas custeados por verbas públicas ou de contratados temporários como prestadores de serviço pela Fundação Euclides da Cunha (uma fundação pública de direito privado, criada pelos professores como de apoio institucional da UFF) que atuavam no lugar de servidores técnico-administrativos, em número cada vez menor pela ausência de concursos públicos.  Eu mesmo, certa vez, me surpreendi quando me deparei com um desafeto político, estudante como eu, trabalhando na secretaria do meu curso com acesso amplo, geral e irrestrito aos meus dados enquanto estudante. Conheci gente que fez graduação-relâmpago com direito a pacote que incluía bolsa de mestrado garantida, propostas sexuais em torno de seleção de bolsistas, dentre outros absurdos corriqueiros que desmerecem qualquer reconhecimento meritocrático.

A reunião do departamento de História com tamanhas revelações, digamos, íntimas fora filmada e gravada por um de nossos companheiros. Exibimos seu teor na íntegra em um telão montado na SENZALA no período noturno. Acontecia um Encontro Nacional de Estudantes de História no Campus do Gragoatá naquela mesma semana e muitos colegas que estudavam em diversas faculdades do país puderam assistir às cenas deprimentes. A área de História da UFF detinha, ao lado do grupo da USP, uma certa louvação por professores, pesquisadores e estudantes do país inteiro. Por tradição, os nomes mais famosos e renomados na área vinham da UFF ou da USP. Imagine a repercussão negativa que deu depois que colegas da área, vindos do país inteiro, assistiram ao vídeo com aquele professor famoso, que enchia a boca para falar de sua própria luta contra a ditadura militar, que escrevia tantos artigos de jornal contra o autoritarismo de setores da esquerda, defendendo que estudante não podia ter direito a voto, que estudante da graduação não pensa? Ou um outro, aos gritos, apontando para uma renomada professora: “vê lá, hein! Você sabe como foi que entrou neste departamento, professora!” Em seguida, a professora é vista se calando!? Inacreditável!

A SENZALA marcou História na UFF mas foi também a minha despedida. Assim que fui presenteado (este me parece o termo apropriado para uma expulsão arquitetada) com a minha “carta de alforria” da UFF, pude me dedicar a um projeto coletivo ambicioso: a rádio comunitária do Barreto, sobre a qual tratarei no próximo “post”. No ano de 2001, eu estava lecionando para a minha primeira turminha de 5a série em uma escola particular do Cafubá, Região Oceânica de Niterói, na condição de estagiário indicado pelo CIEE. Paralelamente estava trabalhando na Assessoria de Meio Ambiente da Presidência do CREA-RJ, montando uma rádio comunitária e uma ONG na comunidade em que havia nascido e sido criado. Foi um ano extremamente rico em experiências. Tornei-me espírita a partir dele e de vivências concretas com o outro plano. Certamente não era um bom aluno de História e não devia merecer ficar lá azedando a festa dos outros. Mais à frente, voltaria e tentaria cursar História sem o mesmo apreço  que sentia enquanto aluno em movimento no passado e, agora, professor por autodeterminação. Faria um novo vestibular para Letras – Português/Latim – e deixaria novamente em função de uma outra experiência riquíssima em Minas Gerais.

A primeira saída, em 2001, foi quando eu comecei a construir a História de meu tempo em outros ares, pois um libertário não se apega nem se cansa com as mais absurdas adversidades ou a mais tentadora proposta de coletivo eterno. Muda de estilo, muda de estratégia, começa de novo sempre, sabe reconhecer os limites de sua atuação sem rancores nem mágoas no espaço e no tempo. Tem muito o que fazer, ensinar e aprender, no mundo que não é dele mas precisa dele para ser melhor. Estamos em diversas frentes e não reivindicamos para nós, individual nem coletivamente, nem a posse material, nem a condução eterna de nenhuma das nossas obras pelo mundo. Isto nos diferencia dos capitalistas e também dos socialistas, faz de nós um pouco mais cristãos – pelo desprendimento e pela caridade - do que a média e ainda causa impactos que, revisitados no futuro, parecem ter logrado algum êxito.