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Niterói, Rio de Janeiro, Brazil
Estudante, professor e agente da História de seu tempo. Deformado pela Universidade Federal Fluminense, pela capacidade de resiliência em torno de causas justas, pela coragem e pela sinceridade. Dinâmico, espiritualista, intuitivo, libertário, imprevisível. A leitura de seus textos é recomendada a quem faz uso de covardias.

domingo, 3 de julho de 2011

Lutas pelo direito ao prazer

Por que ainda precisamos gritar pelo direito ao prazer?

Em todo o mundo, mulheres gritam o quanto é importante ser feliz sexualmente. Que não são objeto de ninguém, que têm o direito de escolher quem desejam como parceiro, que precisam ser mais respeitadas em seus respectivos locais de trabalho. Que querem ter seus filhos ou não, decidindo, elas próprias pelo que elas próprias irão carregar até a morte. Um filho não é brincadeira: custa caro manter, exige comprometimento com a formação e o acompanhamento. É uma dedicação tão importante que não é pra quem não quer. É pra quem quer, de fato, mudar de vida. Mudar por causa de uma Vida que os pais puseram no mundo e agora precisarão de todos os meios para sustentar. Obrigá-los a ser, com todos os métodos de prevenção ou interrupção existentes, considero uma verdadeira irresponsabilidade. Uma irresponsabilidade com a Vida.

Pelo que eu saiba, padres, freiras, pastores e pastoras não costumam assumir todos os filhos que são postos no mundo. Logo, podem achar o que quiserem do direito de ter ou não ter filhos mas não podem mandar nas vidas das mulheres. 

Rejeitar a vida segundo suas orientações moralistas tem sido, isto sim, uma das grandes e positivas revoluções de nossos tempos. Razão de tamanho incômodo, nada mais que uma insurgência histórica contra milênios de ordenamento do pensamento conservador cristão no mundo. Para quem já matou muita gente boa, discriminou e levou ao desespero, afogou relacionamentos amorosos, mentiu pra caramba e sempre foi pego fazendo o que sempre condenou, o conservador cristão, este sim, encontra-se em desespero existencial. Não morto. Mas em desespero suficiente para ficar apregoando que liberdades são sinônimo de fim do mundo. Não são.

Na verdade, sabem como estão ameaçados e andam cada vez mais raivosos. De certa maneira, ganhando adeptos dentre desesperados por razões de egoísmo humano, não de liberdade em excesso. Quando se tem a liberdade, tem-se a liberdade, inclusive, de ser egoísta ou não. A liberdade, na verdade, é o direito de encontrar seu caminho próprio, não um único caminho. É o direito de perceber o que lhe afeta, o que lhe incomoda, de refletir, de falar, de exercer o que lhe oferece prazer. De rejeitar o sofrimento. Mas também, dentre caminhos positivos da existência humana, aqueles que oferecem prazer e amor, progresso e bem-estar, saúde e melhoria, existem também os caminhos da Dor.

Cristãos conservadores são aqueles que usam suas respectivas liberdades apegando-se ao sofrimento de Cristo como norte único, predestinado pela providência divina, para todos e todas. Este raciocínio é o grande responsável pelo alto grau de auto-flagelação dos homens e mulheres quanto ao que lhes gera prazer e felicidade. É a noção de pecado, aquela que menospreza o combate ao egoísmo e superestima a condenação das sexualidades, a grande distorção que anda sendo corrigida numa complexa transição ainda exagerada, em alguns aspectos, mas libertária, significativa e pertinente em tantos outros.

O que me incomoda, no mundo de hoje, é justamente quando percebo que os cristãos conservadores crescem na condenação do alvo errado. Deveriam, enquanto cristãos de verdade, condenar o mau-caratismo, a ganância, o individualismo e todos os seus derivados que assassinam milhões de vidas humanas, outros milhares de espécies de seres vivos inclusos, e são uma opção política muitas vezes adotada ou seguida por parlamentares e governantes que enchem a boca de ódio para representarem os mesmos cristãos.

Mulheres, gays, negros e tantos outros segmentos que se insurgem em busca de seu direito legítimo à igualdade de tratamento, à curtição plena do prazer de existir e de viver, não deveriam ser condenados. Não é o sofrimento de Cristo a grande questão humana a ser perseguida, insistida e comemorada. É justamente o contrário: sua vida! Seus ensinamentos em vida constrangem católicos e evangélicos mais radicais diante de uma lúcida e cuidadosa análise de suas prioridades. É no Amor ao Próximo a base, o fundamento, o mandamento supremo da passagem de Cristo. A morte dele, a cruz, o sofrimento, pelo contrário, decorrem da necessidade gananciosa de sacerdotes em sua época, das autoridades humanas e da fragilidade dos egoístas, mesmo dos populares que, uma vez ajudados por Ele, o negaram, o entregaram ou se acovardaram diante de poderosos que o perseguiam. Convicto de seus princípios emancipadores da alma humana, Jesus Cristo ainda pediu a Deus para perdoá-los porque não sabiam o que faziam. 

Por tal, defendo as paradas gays, a união estável e o casamento civil de todos que se Amam, da maneira que se amam, porque Amar é mais importante, revolucionário e legítimo que odiar, condenar, reprimir ou perseguir prazeres alheios que excitam e não comprometem a Vida. Defendo que os gays devem adotar filhos sim, sobretudo porque salvar vidas perdidas de casais heterossexuais irresponsáveis ou despossuídos de condições mínimas de mantê-los, obrigar héteros a tal disposição sem querer mantê-las, talvez seja mais irresponsável do que pensamos. Acreditar na influência de pais gays sobre a sexualidade de filhos criados por eles é simplesmente desconhecer totalmente a constituição da personalidade de um gay, seara que, por causa própria, tendo mais a reconhecer uma forte composição de elementos genéticos sem desconsiderar a interpretação própria de cada indivíduo sobre o mundo humano que o cerca. 

O mesmo em relação às mulheres. Que abortem aquelas que se julgarem despreparadas ou incapazes de assumir um compromisso tão importante. Que sustentem seus filhos, e até filhos de criação, aquelas que assim considerem que deva ser feito. A legalização do aborto é um direito de escolha de cada mulher, segundo seus próprios princípios e convicções, independentemente de sacerdotes mais preocupados com a manipulação mental das pessoas que com suas respectivas felicidades. 

A grande revolução de nossos tempos reside numa oportunidade histórica de ser feliz com o que se é, mas, para tal, ainda assim, há de se tomar conta dos raivosos portadores do único caminho. Ao mesmo tempo, solicito a eles a preocupação do Cristo com o egoísmo humano, ameaça real às espécies e ao planeta, algo que vem ceifando vidas em proporção genocida nas barbas dos mais atentos cristãos. Com o apoio de suas principais lideranças, para tristeza do Pai.  

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