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Niterói, Rio de Janeiro, Brazil
Estudante, professor e agente da História de seu tempo. Deformado pela Universidade Federal Fluminense, pela capacidade de resiliência em torno de causas justas, pela coragem e pela sinceridade. Dinâmico, espiritualista, intuitivo, libertário, imprevisível. A leitura de seus textos é recomendada a quem faz uso de covardias.

domingo, 12 de junho de 2011

O que deve ser dito

Assusta-me a hipocrisia de nossos tempos. Em toda a mídia, em todos os ambientes de trabalho, nas universidades e nas rodas de conversa, em uníssono, esbravejam farsas como essas:


1 – “O que faz as pessoas ficarem desempregadas ou subempregadas é a falta de qualificação do povo brasileiro.” (a grande mídia todo dia);

2 – “O problema da educação no país não se resolverá com mais recursos ou salários melhores. O problema é de má gestão, má formação dos professores e excesso de influência das ideologias protossocialistas na interpretação de mundo dos mestres.” (Gustavo Ioschpe, economista, acompanhando o Jornal Nacional em visita a diversas escolas pelo país);

3 – “A iniciativa privada preza pela competência e pela meritocracia.” (a grande mídia, os empresários, os políticos, os profissionais de RH, todo dia);
4 – “Funcionários públicos não gostam de trabalhar. Com a privatização, todos os serviços públicos melhoraram.” (a grande mídia, os empresários, os políticos, os profissionais das áreas de gestão, pessoas do povo oprimidas, todo dia);

5 – “Manifestação de protesto ou greve é coisa de vagabundo, vândalo, gente que não tem o que fazer. Atrapalha o trânsito, prejudica pessoas inocentes.” (a grande mídia, os empresários, os políticos, os profissionais das áreas de gestão, pessoas do povo oprimidas, todo dia).

Vamos por parte, desmentindo um a um estes argumentos, com a fragilidade que possuem em qualquer avaliação superficial da vida cotidiana e da realidade prática, ainda que sejam tão difundidos e reproduzidos sem maiores reflexões:

Em primeiro lugar, tudo o que existe no mundo é fruto de IDEOLOGIAS. Ideias humanas constroem mudanças, destroem perspectivas, selecionam opiniões segundo interesses, dos mais nobres aos mais mesquinhos, e influenciam na concretização dos sonhos que ostentam. A IDEOLOGIA CAPITALISTA tenta sempre se afirmar como NATURAL DO HOMEM, equiparando as suas defesas de 1776 (data de criação do liberalismo econômico, tendência da ideologia capitalista que abraça radicalmente as teses da livre iniciativa privada, do Estado Mínimo, da eficiência e da produtividade em função do lucro máximo de poucos, das desigualdades sociais, do individualismo, etc.) às necessidades fisiológicas permanentes (alimentar-se, evacuar, urinar, respirar, etc.). Sabemos que não é bem assim. O capitalismo se afirmou na História da Humanidade como ideologia, fez uma classe social (a burguesia) submeter outras que até então eram as poderosas (a Nobreza e o Clero), aliando-se com estas e as ressignificando, e enganando os trabalhadores em seu discurso de Liberdade, Igualdade e Fraternidade (lemas da Revolução Francesa) quando buscou se manter – frise-se, a qualquer custo! - no comando da economia, da política e da vida social no mundo.

Em segundo lugar, estamos em franca decadência do Neoliberalismo Econômico, tendência da IDEOLOGIA capitalista que, tal como as outras tendências, vai e volta, predominando em ciclos da história, sempre que são necessárias à sustentação e permanência do próprio capitalismo. Do fim do século XX até agora, recebeu o prefixo “neo”, que significa “novo”, novo liberalismo econômico. Ocorre que há uma grande resistência dos pouquíssimos seres humanos do planeta que vêm lucrando como nunca (BILHÕES E TRILHÕES) com esta tendência, de forma extremamente egoísta e inútil (como vão usufruir de tudo isso em vida?), sobre jogatinas do mercado financeiro que endividam pessoas físicas, pessoas jurídicas produtivas e o próprio Estado. É a força do individualismo no genocídio e no suicídio da humanidade.

Todas as empresas privadas que geram emprego e produzem riquezas estão submetidas a uma carga tributária violenta, a juros extorsivos em créditos que adquirem, e acabam fechando as portas ou, conforme a sugestão magnânima dos neoliberais, demitindo empregados, pagando pouco, criando disputas desumanas e razões imbecis de competitividade para justificar a exclusão de bilhões de pessoas do direito à comida, à moradia, à vestimenta, ao transporte e ao lazer. É onde entra a farsa da “competência individual” como motivação para a admissão, promoção ou demissão de empregados. Enquanto pessoas competentes e responsáveis são demitidas a torto e a direito por interesses privados mesquinhos (favorecimentos sexuais, graus de parentesco, intimidade subserviente etc.), o discurso é de que foram incompetentes, de que precisam se aperfeiçoar, de que dispõem de pouca qualificação etc.

Esta instabilidade racional e emocional, este distanciamento entre os métodos alardeados de competência e meritocracia que a turma do RH midiático adora elaborar pomposamente e vender como verdade e a realidade concreta das admissões, promoções e demissões na iniciativa privada são tão acintosas, comprometem de tal maneira a inteligência emocional, os valores e os princípios cristãos e democráticos da maioria, que o uso e abuso da malandragem tornaram-se táticas usuais e obrigatórias de sobrevivência, causando profundo mal-estar individual e coletivo, altos índices de depressão, corrupção e violência, que se retroalimentam na brutalidade das instáveis condições de empregabilidade.

O que o trabalhador deve fazer se tudo aquilo que sempre foi pregado como correto e justo, desde a construção de conquistas pelo mérito do esforço no estudo, na melhoria de suas relações interpessoais, na responsabilidade quanto a horários e no comprometimento quanto à eficiência de seu trabalho, na preservação do patrimônio patronal quanto a roubos ou desvios vários, de nada adianta para garantir seu emprego por mais de alguns meses ou um ano? As contas são mensais, as despesas cada vez maiores, ou, como dizia um amigo, “todo dia dá meio-dia”.

Existem dois efeitos quando se enxerga ou não as verdadeiras causas da sua demissão, da ameaça permanente ao cumprimento de direitos trabalhistas, nos salários aviltados e na sempre adiada promoção: depressão profunda, fruto da sensação de incapacidade individual, desta excessiva culpabilização dos indivíduos por seus destinos, que, não raro, também descamba em problemas vários de saúde, ou tendência forte à criminalidade, à corrupção, ao jeitinho brasileiro que nada mais é que um eufemismo para malandragens de todos os tipos. O uso de falsidade e de recursos violentos como forma de reação à violência sofrida, muitas vezes direcionada a pessoas que nada têm a ver com o peixe, também é muito comum. Logo, o fenômeno individual da depressão, da malandragem ou da criminalidade, uma vez disseminado em tantos e tantos lares e espaços de convivência, torna-se uma chaga social perceptível de raiz comum e galhos diferentes, exigindo profundas reflexões e mudanças de rumo do modelo econômico individualista e brutalmente desigual que não interessa à humanidade porque é suicida e genocida ao mesmo tempo.

Em terceiro lugar, o descaso cultural e endêmico com a educação tem a ver com essa ausência de perspectiva segura que os esforços no estudo outrora garantiam e não garantem mais. Como um estudante respeitará o professor se QUASE NINGUÉM na sociedade o respeita mais? Se todos o acusam sistematicamente pelos problemas da educação no país, quando a definição de recursos e rumos é dada por políticos e empresários? Se alguém que vive com milhares de reais mensais e sabe os custos mínimos da sobrevivência humana digna, vai à imprensa e diz que salário não é o problema para um professor que ganha SETECENTOS REAIS, este alguém está agindo com profundo desrespeito à classe dos professores. Está incitando a convulsão social a partir de um argumento egoísta – uma vez que dependeu um dia, como todos os profissionais de todas as áreas, do professor para entender o que minimamente entende e conta como instrumento – e ainda falseando as verdadeiras intenções do descaso à população mais pobre. Que dizer da tão propalada necessidade de qualificação da população brasileira se a educação pública (eu ouso dizer que, hoje em dia, mesmo a privada) é submetida, desmotivada, limitada ou destruída?

Não vai haver qualificação da população mais pobre assim e isto é proposital sim. É fruto da covardia elitista que, no Brasil, insiste mesmo é na hereditariedade aristocrática dos talentos, dos acessos e das promoções sociais. O mesmo neoliberal que afirma de forma contundente a necessidade da meritocracia no mercado de trabalho em geral é o que favorece explicita ou implicitamente seus próprios parentes, seus amigos íntimos, seus parceiros sexuais ou aquela seleta casta de puxa-sacos (ou “bobos da corte”) que se submetem a todos os seus caprichos ególatras cotidianos numa busca insana para, na hora da contratação, da permanência ou da promoção nas empresas, não serem preteridos. Ora, para isso não é preciso estudo. Nem competência ou mérito. Aos excluídos, só restam as mesmas desculpas esfarrapadas geradoras de tamanho mal-estar profundo já analisadas neste artigo.

Com as privatizações de diversos setores públicos, milhões de trabalhadores foram desempregados. Trabalhando hoje em diversas empresas terceirizadas, uma parcela subempregada conta com constantes voltas nas suas garantias trabalhistas mínimas. Os serviços prestados por estas empresas ficaram caríssimos e de péssima qualidade. Estas empresas são recordistas em reclamações no PROCON e suas punições judiciais, quando ocorrem após anos a fio, são restritas a multas baratas já previstas em seus respectivos orçamentos, obviamente alimentados por contas caras e outras voltas no consumidor comum. Este mesmo consumidor, muitas vezes, é seu funcionário ou ex-funcionário, ainda que indireto ou aposentado, e devedor também. A condição de ex-funcionário da iniciativa privada, doente ou endividado, aliás, encaminhado para o INSS, para os hospitais ou para a criminalidade não é pequena no Brasil dos anos 90 para cá. Alguns engrossam as enormes filas de candidatos em concurso público, que cresceram na proporção das privatizações feitas no Brasil, demonstrando claramente que a população não credita confiança no trabalho, na remuneração ou no cumprimento de direitos trabalhistas mínimos por parte do empresariado que se diz coerente com princípios de sustentabilidade, responsabilidade social ou meritocracia.

Isto sim é realidade construída pelo atual modelo econômico, em franca decadência e resistência cíclica desde 2008, a custa de milhões e bilhões de vidas humanas. Insistem para que o Estado Brasileiro aplique a seus servidores públicos os mesmos princípios suicidas e genocidas que tanto mal-estar e precariedade vêm causando ao conjunto da população mundial. Estão criando gerações inteiras de depressivos, malandros e bandidos e não estão se dando por satisfeitos. Pura ganância irresponsável e idiota pois, como já disse, ninguém terá vida suficiente para gastar, ainda que de forma perdulária e esnobe, todos os bilhões acumulados. Seus herdeiros, se é que estarão pensando na integridade financeira e moral de suas heranças, não darão o valor devido nem a si próprios nem ao que seus pais, parentes e padrinhos acumularam e permitiram deixar. Não tenham dúvida que esta tendência deveria ser denunciada, julgada e condenada como crime contra a humanidade. Trata-se de verdadeiro genocídio! A parte suicida da coisa reside nos seus efeitos sociais alardeados, algo que câmeras escondidas, carros blindados e grades já demonstram não evitar.

Por tudo que relatei, insisto: não se permita à depressão por culpas, sensações de incapacidade que não lhe pertencem a verdadeira motivação. É um recado a todos os milhões de trabalhadores brasileiros que se encontram, como eu, na condição de desempregados por injustiças que jamais poderão ser justificadas pela ausência de comprometimento e de responsabilidade com os diversos trabalhos exercidos. Por onde passei, transformei para melhor a lógica e a operacionalização das rotinas de trabalho. Sinto-me punido justamente por ter inovado, por ter me aperfeiçoado, por cumprir horários e por adquirir direitos legítimos como a aprovação e classificação em concurso público. Em meu lugar, cansei de ver, tanto na iniciativa privada quanto no serviço público, fui substituído por medíocres circunstancialmente interessantes à chefia, ao comando político ou ao empresário.  Garantiram empregos a parentes e a aliados subservientes, ainda que estes não soubessem nada ou quase nada do que fariam em seus postos de trabalho. Não há perspectiva de qualidade, produtividade e eficiência no mercado de trabalho brasileiro: isto é apenas peça publicitária enganosa do sistema.

O velho patrimonialismo, associado ao novo e grosseiro individualismo, são um misto perverso que determina as relações sociais no Brasil do século XXI. Outra solução não há que denunciar, protestar e se organizar com injustiçados do país e do mundo inteiro, buscando, cada qual, fazer a sua parte para que nossa sociedade seja melhor do que esta que aí está. E isto é tarefa cotidiana, dos mínimos detalhes às maiores iniciativas práticas. Por isto, estive na passeata dos professores da rede estadual em greve e no ato solidário à situação dos bombeiros no Rio de Janeiro nesta última sexta-feira, dia 10 de junho. Como não estar? Como não apoiar? Só uma educação de qualidade proporcionará, sem covardia, a profusão de talentos por mérito de verdade, ainda que fora da casta de herdeiros; a sensação de segurança pública tão pleiteada; o conhecimento e a crítica necessários à construção de uma sociedade menos mesquinha, preconceituosa e submissa. Isto sim, urgente no Brasil. Quanto aos bombeiros, a prisão de seus membros em protesto demonstra o tipo de governante que não queremos. Quando não se aceita a exploração agressiva e irresponsável, tornamo-nos vândalos e criminosos. É quando a nossa democracia se expõe em toda a sua farsa. Vivemos uma ditadura econômica nociva que força aos indivíduos a desunião, a depressão, a malandragem e a criminalidade. Não se deixe permanecer como marionete de gananciosos ditadores. A decadência e a ascensão deles sobre os nossos destinos também são oportunidades cíclicas plantadas, como ensina a História da Humanidade, dependendo sempre da aceitação ou da rejeição coletiva.

Determinadas circunstâncias históricas são verdadeiras oportunidades de aceitação ou rejeição de mudanças concretas naquilo que nos causa dificuldades e mal-estar. Assim como não devem ser menosprezadas por interesses partidários (ou ególatras), não podem também ser condenadas em nome de leis que até então foram fixadas socialmente. Desequilíbrios inaceitáveis legitimam a suspensão das regras colocadas. Assim como militares não poderiam se insubordinar aos seus comandantes, torna-se legítima a insubordinação dos bombeiros frente a uma crise de sobrevivência vital a todos imposta e que a todos individualmente identifica. Sobretudo quando uma autoridade eleita democraticamente, como é o caso do governador Cabral, recusava-se a negociar com uma categoria inteira há dois meses, revelando não só a faceta arrogante de sua personalidade quanto a do sistema com o qual se identifica, causador de profundo desequilíbrio social e sempre disposto a atitudes autoritárias para se impor.

Neste sentido, falar de perturbações ao trânsito no momento das passeatas ou da “invasão” do quartel que constitui o local de trabalho dos próprios bombeiros, por si só, se revela uma tentativa de desvio do foco principal, um instrumento de retórica que serve ao interesse de quem pratica a injustiça.

Vale lembrar que o direito à liberdade de expressão é constantemente lembrado pela imprensa quando reage a tentativas de regulamentação dos seus próprios interesses mas é profundamente atacado quando ela própria trata dos interesses de setores organizados da sociedade.

Neste episódio dos bombeiros, houve uma mudança significativa na abordagem dos meios de comunicação. Menos porque mudaram seus interesses e mais porque a população compreendeu a injustiça do governador e apoiou amplamente os bombeiros. Tal evento constituiu uma circunstância histórica não verificada em outros movimentos sociais recentes. Onde o pensamento conservador da maioria prevalecia, agora sucumbiu, apontando para uma insatisfação popular com o estado das coisas como estão. O que se rejeitava anteriormente, hoje se aceita, como métodos parecidos e pleitos tão justos o quanto. Houve uma manifestação popular favorável à causa e isto implica variáveis significativas, inclusive na postura da mídia. Logo, outras categorias profissionais vêm pegando carona na mobilização dos bombeiros, o que não quer dizer que obterão o mesmo êxito ou disposição da população. Tudo depende de mudanças na própria forma de mobilização de cada uma e na capacidade solidária das categorias, tudo acima das vaidades e jogos de interesse dos partidos políticos.

Os professores, por exemplo, fazem greves com mais periodicidade – o que poderia ser suficiente para acusá-los de banalização do instrumento de pressão - mas o fato é que não demonstravam tamanho grau de união em suas manifestações, sendo constantemente divididos por interesses partidários, individualismo e comodismo. Esta outra realidade dos mestres, somada à cultura de desvalorização da educação tratada anteriormente aqui, acabaram sendo suficientes para derrubarem seus movimentos recentes ao descrédito, à sensação de que estavam buscando mais férias que propriamente a mudança de suas condições profissionais e sociais.

A mobilização dos bombeiros ensina aos professores que, mais do que nunca, o movimento sindical precisa BUSCAR A IDENTIDADE DO PROFESSOR para uni-lo acima de pormenores partidários. Este é o primeiro ponto a ser considerado: o que é ser professor, acima das disciplinas que lecionamos, do grau e do sistema de ensino, das disputas partidárias e das peculiaridades.

A segunda questão é resgatar O GRAU DE IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DA EDUCAÇÃO para a economia do país que ela tem, denunciando a incoerência entre o discurso e a prática dos neoliberais NO SEU MODELO DE FINANCIAMENTO E GESTÃO, a intenção de MATAR os mais pobres de asfixia cultural e econômica. Este é um movimento político direcionado ao apoio popular.

A terceira, a meu ver importantíssima também, é PARAR DE PROTEGER PROFESSOR QUE NÃO DÁ AULA NEM FAZ NADA PARA MELHORAR A SITUAÇÃO DA CATEGORIA. Este personagem que nunca vai dar aula, que falta pra caramba e não dá a mínima para o aluno, que não participa das greves nem dos protestos e ainda justifica argumentos contrários à estabilidade do serviço público. É cortar na própria carne, no corporativismo, mas também é legitimar o movimento dos bons professores, a maioria da categoria, que não precisa de gratificações por desempenho mas de bons salários porque querem, de fato, fazer um bom trabalho e ter uma vida digna e merecida. Digo isto porque professores ausentes e irresponsáveis acabam tirando do estudante e das famílias o apoio político de que mais a classe necessita para recuperar seu prestígio e valorização. Se o cara não agüenta mais ou não gosta ou não quer, que caia fora da escola, peça exoneração que será mais digno. Do contrário, se insistir, que seja apontado e devolvido sempre, até que responda o devido processo legal e seja devidamente exonerado. O que não dá é pra fingir que trabalha, prejudicar outras pessoas, atrapalhar o movimento e a imagem da categoria, derrubando qualquer reivindicação justa.  É nisso que se apegam os neoliberais para defenderem o fim da estabilidade no serviço público, as avaliações de desempenho e até as possíveis razões para a desvalorização profissional. Nisto, acabam captando apoio popular pesado com os argumentos mais absurdos, os mesmos que são fundamentados em uma realidade concreta que prejudica estudantes. Como dizer que estão totalmente errados os que reclamam disso?

A quarta e última questão, sem dúvida central, é uma PAUTA UNIFICADA dos professores a nível nacional. UM PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO BRASILEIROS, incluindo obviamente a galera do apoio, que defenda um piso nacional de R$5.000,00 (CINCO MIL REAIS) mensais para início de carreira. “Ah, é muito!”, “Ah, não pode!”, vão tentar dizer. Pode sim e o Brasil dispõe de muitos recursos quando quer financiar empreendimentos e empresas privadas. Se a educação é estratégica para todos os setores da economia nacional, passa a ser PROJETO DE ESTADO sua valorização efetiva e imediata, articulando-se recursos com a mesma dedicação quanto aos que se articulam quando interessam qualquer projeto de infraestrutura em curso no país. Existe a possibilidade de financiamento pelo BNDES, pelo BB, pela CEF, pelos fundos em geral, pelo orçamento da União, pelo Pré-Sal, por parte do que vem sendo pago a título de juros da dívida “eterna” e muitas outras fontes. É urgente equiparar os rendimentos do professor no país inteiro aos rendimentos médios de um profissional de nível superior. Ora, muitas redes não exigem até provas de títulos com pós-graduação em seus concursos? Que eu saiba, advogados, médicos, dentistas, engenheiros, entre outros, não precisam de pós-graduação para receber de TRÊS a CINCO MIL MENSAIS. O plano de carreira daria conta de acréscimos ulteriores, indispensáveis também. Isto animaria de tal maneira a carreira, atrairia tantos jovens talentosos para o magistério, transformaria tanto a relação do mestre com seus alunos e com a sociedade, que o impacto seria inacreditavelmente saudável para a reconstrução do país.

O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO BRASILEIROS daria um cala-boca nestes gestores metidos a espertos que vêm com acusações descabidas de “choque de gestão” sem aumento de salários. Mas teria também que tratar de toda a infraestrutura ideal, indicando claramente UM PADRÃO NACIONAL de instalações e equipamentos para uma boa escola pública funcionar em qualquer cantão do país. A gente cansou de miséria e improviso na educação. O senador Cristóvão Buarque (PDT-DF), ex-governador do DF e ex-ministro da educação demitido logo no início do primeiro governo Lula, estava certíssimo ao declarar que se uma agência do BB tem a capacidade de se instalar em qualquer canto do país com os mesmos padrões de excelência, o mesmo deveria ser oferecido pelas escolas públicas brasileiras. Sua ideia de FEDERALIZAR toda a educação também seria bem-vinda, uma vez que pude presenciar o que os municípios fazem com esta determinação legal de assumirem a educação infantil e o ensino fundamental. É uma verdadeira desgraça no interior do país, com manipulação grosseira de docentes por contratos políticos e desvios inacreditáveis. Se é projeto estratégico de país, no nosso caso, tem que ser FEDERAL da educação infantil ao ensino superior. Isto emanciparia o profissional de educação das politicagens locais, evitando a perpetuação de práticas coronelistas de gestão.

Outro ponto importante: ELEIÇÃO DIRETA DA COMUNIDADE ESCOLAR para cargo de direção. Fim das nomeações políticas que tanto determinam manipulações grosseiras de vereadores, deputados e comandantes do Executivo na escola, descaracterizando e desmantelando continuidades, perseguindo profissionais.

Porra, tô pedindo demais? Professores, sabemos quais são os pontos mais problemáticos da nossa atividade profissional! Aqueles que se dizem “de esquerda” e estão no governo federal têm a obrigação moral de sustentar este projeto. Se não podem, ou não puderam até agora, emancipar-nos da colonização das instituições financeiras internacionais, pelo menos poderiam semear mudanças futuras que só poderão advir de investimentos pesados e contínuos na valorização planejada da educação pública brasileira. O Pré-Sal, por exemplo, seria uma fonte de financiamento sólida e própria mas os mecanismos atuais, em geral, já estão colocados. Basta vontade política de realocar recursos, prioridades e sugestões dos professores. Não podemos deixar que continue tamanha crueldade social do neoliberalismo econômico e o caminho seguro, maior que qualquer outro, é uma Política de Estado de Educação, contínua e forte, que não ouça baboseiras capazes de destruir o que ainda nos resta.

Lembro aos que se locupletam dos poderes atualmente constituídos que não serão eternos, nem o seu poder, nem a sua existência vital. Aproveitem a oportunidade colocada às suas mãos: o destino de milhões de crianças e adolescentes, hoje entregues à perspectiva da depressão e da bandidagem, que podem, em trinta anos, tornar qualquer revolução possível. É pelo bem-estar social de um povo inteiro.

Sejamos menos egoístas e poderemos reencarnar mais leves... falo por experiência cármica própria.

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