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Niterói, Rio de Janeiro, Brazil
Estudante, professor e agente da História de seu tempo. Deformado pela Universidade Federal Fluminense, pela capacidade de resiliência em torno de causas justas, pela coragem e pela sinceridade. Dinâmico, espiritualista, intuitivo, libertário, imprevisível. A leitura de seus textos é recomendada a quem faz uso de covardias.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Eleições 2012 em Bocaina de Minas (MG) - Parte 3: Eleger vereadores capazes de defender interesses populares e não apenas o prefeito

       Nesta série de artigos sobre as eleições municipais em Bocaina de Minas (MG), chego ao terceiro tratando de uma questão importante, muitas das vezes menosprezada pelos eleitores: a eleição de vereadores qualificados, corretos, corajosos e justos para fazerem frente aos interesses da população, defendendo ou não os interesses do prefeito, sempre que necessário.

       É da nossa tradição política (e isso não é coisa de Bocaina de Minas, é coisa de Brasil) eleger o amigo, o parente, o aliado do prefeito que escolhemos, o cara das promessas de privilégios para nós e para nossa família, aquele que faz agrados só em época de eleição e esquece de nós o resto do mandato. Achamos que vereador não serve pra nada, a não ser para estes favores pequenos (que de "pequenos" não têm nada, acabam custando bem caro...). Este voto barato (barato para o político, muito barato, mas caro, caríssimo para os eleitores...) faz com que vereadores não se sintam obrigados a consultarem seus eleitores quando vão tomar decisões importantes na Câmara Municipal. Geralmente, eles se sentem comprometidos com quem os financia a campanha, com quem garante o dinheiro para a compra do eleitor. 

      Ocorre que este dinheiro, quando não é de empresas particulares interessadas em privilégios do governo, quando não é de doação de indivíduos com dinheiro (que também têm seus interesses), vem do próprio governo, do dinheiro público desviado de todos os serviços públicos que deveriam funcionar bem, como manda nosso direito, e não funcionam. Quem financia a campanha política do candidato é quem vai mandar no político eleito, o que constitui um duplo desvio, tradicional na política brasileira. O primeiro desvio é o do dinheiro público e do direito para todos que não existiu, virou favor ou privilégio de poucos, para eleger o candidato. O segundo desvio é o da condução das políticas de governo, que ao invés de favorecer o povo como um todo, depois de eleito, passa a favorecer apenas o interesse de um grupo reduzido da cidade. Chamo de "duplo desvio" porque, na verdade, é como uma estrada de mão dupla, onde a estrada é a mesma mas o movimento de carros pode ser contrário. Como se diz na linguagem política, é o famoso "toma lá, dá cá". 

        O problema desta tradição é que a maioria que vota e sustenta, através dos impostos, todos os políticos e serviços públicos, é sempre enganada e roubada. Assim, esta tradição não pode servir a políticos e eleitores comprometidos com a mudança séria que nossa cidade precisa. Olhar bem quem financia cada candidatura, seja para prefeito, seja pra vereador, é passo importante para um voto consciente. Se o prefeito costuma arrecadar mais dinheiro e atenção das pessoas porque terá em suas mãos a máquina da prefeitura, os vereadores aprovarão leis municipais importantes, podendo autorizar ou desautorizar o prefeito quanto a diversas iniciativas. Se não vão ter a caneta que determina a execução do serviço, da obra ou da necessidade pública qual for (coisa que cabe a quem faz parte do Poder Executivo, no caso o prefeito e seus secretários municipais), os vereadores poderão encaminhar ao prefeito pedidos, indicações de necessidades em cada comunidade, e poderão formular leis que deem conta dessas necessidades (por isso os vereadores fazem parte do Poder Legislativo, o que legisla, o que faz leis). 

         Se uma decisão do prefeito desagradar ao povo, for abusiva, por exemplo, os vereadores reunidos em maioria podem derrubá-la. Um prefeito não manda tanto se não tiver com ele o apoio da maioria dos vereadores eleitos pelo povo numa Câmara Municipal. É por isso que ele tenta comprar vereadores com o financiamento de suas campanhas e, depois, com cargos no Poder Executivo para indicações deles (promessas de emprego), com contratos superfaturados ou privilegiados de compra da prefeitura às suas empresas (se estes vereadores forem empresários) ou com dinheiro vivo mesmo, até para que possam saldar outras tantas dívidas contraídas durante a campanha, comprarem casas, terras, carros e outros luxos, dentre tantas e tantas opções de compra do voto e da consciência do vereador.

        Temos candidatos mais pobres que também contam apenas com o dinheiro do fundo partidário e recursos próprios. Estes podem não ter condições agora de bancarem favores caros mas podem ser excelentes políticos, se eleitos. Primeiro, porque não estarão de rabo preso com ninguém que não seja o eleitor. Segundo, porque é injusto derrubar uma excelente oportunidade de renovação só porque o cara não se vendeu agora para comprar seu voto e lhe iludir depois. Outra coisa é se estiver querendo chegar lá pra fazer mais do mesmo, ou seja, por mais que seja pobre hoje, esteja só de olho numa grana futura. Aquele que não dá pra confiar também não vale a pena. Preste bastante atenção nessas possibilidades que envolvem os candidatos sem dinheiro. O primeiro exemplo que dei é positivo mas o segundo exemplo é bastante negativo. Ainda assim, nunca estamos livres da possibilidade da trairagem. 

      Precisamos de vereadores qualificados. Não estou nem falando em honestidade porque isto em política é artigo raro demais pra existir! Estou falando do sujeito que, mesmo diante deste malabarismo que deve fazer para arrecadar recursos, contemplar eleitores que só votam se forem agradados no favor de véspera de eleição, ainda assim, consiga colocar os interesses do povo acima dos interesses mais egoístas. É um desafio e tanto. Se você não encontrar ninguém que apresente este perfil, o perfil do político que tem um desejo enorme de fazer acontecer o que há de melhor para o seu povo, nem que por isso cometa erros e pequenos desvios, não te aconselho em votar em ninguém. Mas eu sei que bons candidatos existem em Bocaina de Minas. Existe gente aí que pode fazer um mandato de vereador surpreendente, diferente daqueles que só votam no que o prefeito quer ou não brigam por nenhum projeto, por nenhuma assistência ao seu povo. Sei que tem candidatos aí que são a renovação que esperamos, combinada com uma instrução mínima que faça o sujeito conseguir ler, interpretar leis e documentos em geral. Candidatos que ouçam o povo antes de tomar decisões importantes e votar na Câmara! Enfim, que possam dar trabalho ao prefeito quando tiverem de dar mas que saibam também apoiá-lo, independentemente de partido ou lado político pelo qual foram eleitos,  quando a questão for de interesse público, melhor para o município e obrigatória perante as leis do país.

        Por que estou dizendo isso? Não é preconceito com quem não estudou. É a consciência de que esta tarefa - a tarefa do mandato eletivo - exige, no mínimo, uma capacidade de leitura, de interpretação, de autonomia perante pessoas mais esclarecidas. Se não, o sujeito, por mais bem intencionado que seja, vai ser manipulado por outro. Já vi muito advogado, por exemplo, mandando em político. Já vi muito assessor um pouquinho mais estudado puxando saco, agradando o político, ganhando sua confiança, e o traindo sistematicamente nos papéis, nos documentos, na informação sobre o proceder de cada coisa, na assessoria necessária do cotidiano. Se o político não for minimamente esperto ao ponto de discernir o que pode ou não pode apoiar, o que deve ou não deve fazer, ele se afunda sem saber. E o povo, bem... o povo se estrepa de vez! O cara pode não roubar mas vão roubar por ele e o povo vai continuar sem nada, ainda que veja o mais cristão dos políticos na sua frente, tentando se desculpar o tempo todo.

         É por isso também que escrevi nos outros artigos e volto a insistir: alianças com pessoas inescrupulosas agora, aquelas que nós conhecemos muito bem do que são capazes porque nunca deixaram de estar bem colocadas no poder, aquelas que fatalmente serão secretários municipais ou assessores importantes, que não estão financiando ou apoiando à toa (e que não serão simples funcionários mas sim aqueles de cargos de confiança...), podem indicar para o eleitor, desde agora, o que será o mandato do político. Não pense o eleitor que um prefeito ou um vereador toma atitude alguma sem ser devidamente aconselhado ou orientado por pessoas de sua confiança, de seu grupo político, que estarão lá com poder suficiente para agilizarem a vida das pessoas  ou para atrasarem o quanto puderem. 

       Isso tem que ser levado em conta sim agora, no momento mais importante, o momento do voto. Por que pessoas poderosas lhe imploram, neste momento sagrado, o seu voto? É porque ele tem importância. Não apenas para elegê-las (usufruindo, obviamente, de todas as vantagens e ilusões do poder temporário) mas para também protegê-las em problemas com a justiça. Saiba o eleitor que os promotores e juízes dão muito peso à decisão da maioria dos eleitores na hora de julgar uma cassação, por exemplo. Por diversas vezes, ouvi das autoridades da justiça que o peso da vontade popular era enorme na hora de decidir pela punição ou absolvição de um político. Debati muito esse conceito de democracia que os magistrados fazem e acredito, como você, que o dinheiro ainda fale mais alto. Só que o dinheiro é dinheiro público e o sujeito costuma arrumá-lo no poder. E o poder quem dá é o povo. 

        Então, na hora de votar, considere a história, o presente, as alianças, quem financia e quem apoia, as propostas, se tem moral pra defendê-las ou não, se o candidato tem um mínimo de instrução para não ser manipulado, e, muito importante, se tem coragem e disposição para fazer o que a nossa cidade precisa, que é direito de todos e não favor, independente de lado político. Quanto aos vereadores, garanto pra você, temos opções boas disponíveis aí, muito além se estão ou não arrumando cestas básicas agora. Quanto ao prefeito, diante do filtro que eu coloquei até agora, acredito que só tenha um. Com todo o respeito às opções que se apresentam pela oposição atual, cientes os eleitores de que não voto em quem seja indicado pelo Dito Augusto, espero chegar em Bocaina a tempo para deixar claro o meu voto a quem é digno dele.                                    

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