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Niterói, Rio de Janeiro, Brazil
Estudante, professor e agente da História de seu tempo. Deformado pela Universidade Federal Fluminense, pela capacidade de resiliência em torno de causas justas, pela coragem e pela sinceridade. Dinâmico, espiritualista, intuitivo, libertário, imprevisível. A leitura de seus textos é recomendada a quem faz uso de covardias.

sábado, 2 de abril de 2011

Aos 8 anos de idade, o primeiro jornal

Por volta de 1988, quando eu tinha apenas 8 anos de idade, produzi o que seria uma primeira editora própria - a Editora FAC -, cujas publicações restringiam-se a um mural de cortiça pendurado em meu próprio quarto (onde constavam pretensas publicações), um gibi real com personagens próprios (a "Turma da Bombinha") e um jornal da família (chamava-se "A Família Almeida"), de conteúdo irônico e bem humorado, com tiragens em xerox direcionadas à leitura de parentes e críticas comportamentais.

"A Turma da Bombinha" era produzida com uma simples moeda e seus personagens eram: Bombinha, Bomina, Bumo, Bum e Plash. Eram adolescentes que viam a vida de forma explosiva, sem muitos cuidados com a necessidade do Ser. Claro, esta é uma interpretação atual, de quem, já no auge dos seus 30 anos, olha pra trãs e lembra das abordagens que sempre me inspiraram. Um traço revolucionário era presente nas aventuras das pequenas bombas que constituíam um grupo de amigos com a capacidade de explodirem o que lhes parecia desagradável ou injusto. Infelizmente, não guardo até hoje publicações daquele período mas lembro bem dos formatos e das tiras de quadrinhos, dos assuntos discutidos e da simplicidade dos contornos, todos feitos unica e exclusivamente com caneta esferográfica.

O jornal familiar "A Família Almeida" poderia até ser produzido para a família de meu pai, de onde vem o sobrenome "Calado". Mas foi a intimidade maior com os familiares maternos que permitiram uma publicação debochada apenas para esta banda de parentes. Lembro-me bem que criava apelidos, narrava histórias contadas ao pé do ouvido e até descrevia lances inusitados que rolavam em encontros familiares. Naquele período, pincelava meus primeiros passos na escrita e no jornalismo, com comentários muitas vezes perigosos porque incompreendidos por alguns parentes.

Lembro-me de uma tia a quem apelidei de "o FMI da família" numa alusão clara à posição de tia em melhores condições, que ajudava parentes mas cobrava aspectos da conduta moral do contemplado ou jogava na cara seus feitos para constrangimento eterno. Um primo fora chamado de "Eduardo Ogênio", numa referência ao industrial presidente da Federação das Indústrias do Estado do RJ, Dr. Eduardo Eugênio Gouvea Vieira. Neste caso do primo, pobre e enrolador, figura 171 típico, apenas mais um dos ácidos deboches que constavam no jornal. Uma tia que gostava muito de levar doces e salgados de festas de aniversário, comendo no local o que pudesse, era chamada de "Mão Lalão Dikitute" e as pessoas eram assim tratadas e consideravam inteligentes e bem humoradas as matérias do jornal, muitas vezes esperando as novas edições mensais.

Mas foi justamente a tia que apelidei de "o FMI da família" quem me chamou duramente a atenção repudiando o jornal. Para isso, ela me convidara para um almoço na sua casa, tratando-me muito bem até a hora da cobrança. Considerava, no auge de sua paranoia, que estava eu, ainda criança, sendo manipulado por algum adulto que, maliciosamente, queria tirar uma com a sua cara. E não era o caso: estas comparações eram possíveis graças à leitura sistemática que fazia do Jornal do Brasil, periódico mais aprofundado que meu pai adorava ler e nos explicar quando ainda se interessava por política e pela esquerda partidária.  

Chorei muito quando fui repreendido por esta tia e por seu marido, lembro-me bem já com uns 11 anos. Naquele momento, tomei a decisão de não mais escrever o jornal da família. Alguns parentes me estimularam a continuar, outros criticaram muito a postura desta tia. O fato é que, ainda novo e muito sensível, leitor voraz de jornais e altamente estimulado, principalmente com os assuntos de política, iniciava meus passos na escrita e no jornalismo e já sentia o peso da consequência que uma opinião mordaz traria à minha pessoa. 

A cruel realidade social de nosso país, reflexo também das atrocidades econômicas determinadas pelo Fundo Monetário Internacional como compensação de dívidas contraídas por nossos governantes no passado, era-me perceptível e análogo ao tratamento dispensado por minha tia de melhores condições financeiras a outras da família. 

Em tudo, da macroeconomia mundial à microeconomia familiar, dos 8 aos 11 anos de idade, período em que publiquei os periódicos de "A Família Almeida", inclusive nas razões que levaram ao seu encerramento, já apresentava minha visão de mundo revolucionária, minha postura política delineada por leituras e influências diretas do meu pai, mas que se aprimoraram de forma precoce e alcançaram frutos em diversas passagens por causas coletivas significativas.             

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