Quem sou eu

Minha foto
Niterói, Rio de Janeiro, Brazil
Estudante, professor e agente da História de seu tempo. Deformado pela Universidade Federal Fluminense, pela capacidade de resiliência em torno de causas justas, pela coragem e pela sinceridade. Dinâmico, espiritualista, intuitivo, libertário, imprevisível. A leitura de seus textos é recomendada a quem faz uso de covardias.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A influência da TV na vida das pessoas

Em 1995, quando cursava o primeiro ano do Ensino Médio no Colégio Gay-Lussac Centro (Niterói, RJ), tinha apenas 15 anos de idade. A professora de Português, saudosa "Totinha", sugeriu como trabalho em grupo a ser apresentado o tema "A Influência da TV na Vida das Pessoas". Não à toa, certamente. A turma 013, a mais bagunceira da escola, contava com um colega que iniciava seus rumos na carreira artística: André Marques, atual apresentador do "VideoShow" (TV Globo), então com a mesma idade que eu, começava a gravar os primeiros capítulos de "Malhação", seriado que só iria ao ar tempos depois. André era muito amigo meu, fizemos o trabalho juntos. Chamava-me de "shock", gíria do funk na época. Tenho até hoje o vídeo que produzimos em sua casa em São Francisco. Eu, ele, Daniel Karin e Valério, figuraças do Gay-Lussac.

Optamos por produzir um vídeo em que simulávamos um telejornal, onde eu era o apresentador. Enquanto a notícia veiculada tratava do aumento da inflação, o apresentador, matreiramente, manipulava a abordagem do conteúdo direcionando a sua interpretação: "sai o novo índice da inflação medido pela FIPE: a caderneta de poupança vai aumentar". Com esta tirada, nossa intenção era denunciar os interesses políticos velados da empresa jornalística, sempre em consonância com os poderosos de plantão.

Ao longo da apresentação do telejornal, o apresentador - eu, cabeludo, sempre com os óculos escuros - apontava para uma garrafa de álcool cuja marca estava exposta no balcão do telejornal. Daniel Karin e Valério entravam nos comerciais, correspondendo a um casal (aparentemente hétero, pois Valério se aproveitava de seus longos cabelos e interpretava um mulher cheia de pelos). Eram telespectadores que acompanhavam as notícias, concordavam com a matéria da inflação que ajuda na poupança e apelavam, de forma sarcástica, para que as pessoas usassem camisinha nas relações sexuais. 

André Marques entrava sem camisa - era magro e cabeludo também - na figura de um narrador que explicava nossas intenções reais. Em sua fala, explicava o que era "merchandising", peça publicitária embutida na programação oficial da emissora, enquanto eu entrava na sequência tratando da manipulação do jornalismo. 

Em uma outra cena, todos aparecem juntos diante de uma TV. Assistíamos a uma novela e discutíamos com os personagens e entre nós o que parecia real. André entra de novo explicando a confusão que muitos telespectadores fazem quando encontram os artistas na rua e acabam agredindo-os ou felicitando-os como se fossem, de fato, as próprias personagens fictícias na vida real.

Tiramos 9,5 no trabalho. Acho que o meio ponto ficou por conta do acabamento malfeito. Sem edição correta, o vídeo termina com uma chamada do André para os estúdios da Cinedia, no Projac (área de produção da dramaturgia da TV Globo, onde ele começava a trabalhar). Nossa intenção era entrevistar pessoas da TV Globo mas a falta de tempo do colega com suas gravações inviabilizou nossa visita e a segunda parte do trabalho. 

Minha saída do colégio, no final de 1995, afastou-me destas pessoas. Encontrei Valério quando estávamos na fila do alistamento militar, aos 18 anos, no quartel do 3o BI (onde hoje moram as pessoas vítimas do desastre no Morro do Bumba). Daniel Karin tornou-se músico e até me reconheceu em diversos momentos na Cantareira. 

Tempos depois, telefonei para a casa do André Marques mas ele negou que me conhecesse: "você deve ser um fã otário querendo perturbar meu sossego!" - esbravejou, desligando o telefone na minha cara. 

Vários amigos daqueles tempos confirmaram que ele estava assim, digamos, influenciado pela influência da TV na vida das pessoas.        

Nenhum comentário:

Postar um comentário