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Niterói, Rio de Janeiro, Brazil
Estudante, professor e agente da História de seu tempo. Deformado pela Universidade Federal Fluminense, pela capacidade de resiliência em torno de causas justas, pela coragem e pela sinceridade. Dinâmico, espiritualista, intuitivo, libertário, imprevisível. A leitura de seus textos é recomendada a quem faz uso de covardias.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Novidades a partir de 2011

           O ano de 2011 começou eufórico. E prossegue. Não é pra menos: nunca a acumulação de capitais alcançou um volume de circulação e concentração tão grandes. Às custas de bilhões de seres humanos em todo o planeta, pouquíssimos especuladores vêm alcançando um controle oligopolista inédito dos destinos do mundo. Movimento previsto, estudado, premeditado, fartamente discutido como tendência capitalista desde o século XIX. Em 1929, a grande Crise da Bolsa de Valores de Nova York e a depressão econômica que se seguiu foram juntas o desfecho de um ciclo de medidas econômicas adotadas ao longo do século anterior. Empresas limitadas se tornaram sociedades anônimas, lançaram ações em bolsa, capitalizaram sua capacidade de investimento em produção, geraram emprego e renda, mais impostos, movimentaram fortemente a economia produtiva. Mas como a livre concorrência teria outra performance se não a de criar grandes fusões e, com estas, derrubar a si própria? 

             Nossa diferença atual é que, com o auxílio das novas tecnologias, mobilizaram recursos, enriqueceram e concentraram muito mais que em 1929 nas mãos de poucos. Dessa vez, submeteram os políticos (mesmo os históricos opositores do capital!), os empresários do setor produtivo, os trabalhadores e fizeram da assistência social uma forma efêmera de apaziguar revoltas gerando votos. O estrago é grande. As pessoas percebem que estão sendo iludidas com esmolas, que os políticos sugam muito, que os serviços em geral não funcionam (públicos ou privados), que os empregos estão desaparecendo (ao contrário de toda propaganda inútil na TV) e que os direitos trabalhistas dos empregados estão sendo diminuídos sistematicamente. Paulatinamente e de  fato, estamos retornando às condições de escravidão tão combatidas ao longo do século XIX. Os direitos duramente conquistados ao longo do século XX estão retrocedendo a passos largos. No Brasil, desde a década de 90 pra cá. Ora, quem tem ocupação na sociedade de hoje, não tem tempo, ganha menos, vê cortes abrutos de benefícios sociais e sabe que preparam uma aposentadoria para o instante inevitável de sua morte. O que ninguém conseguia entender antes de 2011 era por que todo mundo parecia permanecer anestesiado, encarando como fatalidade um processo histórico que é construído pela vontade humana de permanecer ou de mudar o estado das coisas que não afeta a um mas a todos, direta ou indiretamente.      

      Após a cegueira torpe do individualismo, que prometia recompensas materiais a quem se calasse e se comportasse como manda o figurino, eis que nos brinda o ano de 2011 com o ressurgimento dos grandes movimentos de protesto nas ruas de todo o mundo. Descobrimos que o engodo é grande, que tem gente ganhando demais enquanto muitos estão se arrastando na sobrevivência. Decidimos que a ganância desse povo tem de ter limites claros. Agora é hora de protestar mas também de elaborar prontamente o que vamos pôr no lugar desta desgraça coletiva. Se sabemos bem o que não queremos mais, temos de definir, tendo como norte cada uma de nossas ideologias alternativas, o que implementar para sobrepormos à forte repetição da tendência ao autoritarismo. O que vigorou no pós-1929 foi o nazi-fascismo no mundo (podemos incluir até o erro soviético do stalinismo neste rol de consequências), recebendo cada Estado Nacional pretexto, munição e apoio popular para alavancar perseguições às liberdades, impor vanguardas privilegiadas e vaidosas e, à moda capitalista, reaquecer as combalidas economias com guerras e estatizações. Não esqueçamos! Com outras milhões de vidas assassinadas e silêncio cruelmente imposto, ambas as atitudes coletivas em busca da manutenção do capitalismo no mundo, que ceifamos boa parte de nosso tempo no século passado. Corremos o risco de repetirmos a palhaçada quando poderíamos estar mais organizados em torno de uma dinâmica nova, capaz de ressignificar e aproveitar elementos da mentalidade e da tecnologia contemporâneas no sentido de romper com sistemas ególatras. Ainda que não seja possível implantar o socialismo ou o anarquismo de nossos sonhos, todos poderiam empenhar esforços para impor limites que reduzam a possibilidade da repetição de erros, como a insurgência de lideranças carismáticas e autoritárias, racismo, xenofobia, genocídio e o resgate sempre tentador de teocracias, principalmente no Ocidente.      

            Os alvos prediletos dos movimentos atuais  são aqueles que, conduzindo a economia mundial, submeteram os governantes dos antigos Estados Nacionais aos seus caprichos. Vejamos:
 
             1 - Egito derruba presidente nas ruas. Uma luta linda que vem se estendendo a outros países da região. O movimento passou a ser chamado de "Primavera Árabe" e eu duvido que esteja sendo feito em nome da substituição das teocracias vigentes no mundo muçulmano por democracias do estilo estadunidense. Derrubaram o presidente, os militares assumiram mas a situação ainda é indefinida. A forte presença de potências ocidentais nas mobilizações internas também são um sinal preocupante (vide Líbia);

              2 - Grécia em pandemônio, revolta diária do povo contra as medidas neoliberais da União Europeia. Não vai pagar a dívida e já afeta o discurso de quebra-quebra generalizado. No entanto, se o capital financeiro é, a grosso modo, manipulado e refinanciado sem lastro, que importa se a Grécia pagar ou não? Se não pagar, inventa-se mais uma forma de exploração, justifica-se e vida que segue. A crise é criada por quem quer ganhar mais e mais, não é por falta de recursos dos grandes agiotas da jogatina internacional. Enquanto der pra tirar, vão tirar. Os girondinos não querem saber mais dos companheiros jacobinos, muito menos de trabalhadores ou mendicantes;

           3 - China vai assumir controle mundial com trabalho escravo, produto vagabundo e ditadura que se diz comunista mas não é? Argh!

            4 - 25 cidades estadunidenses paradas em protesto contra as grandes corporações. Sacaram que os políticos são parte da folha de pagamentos dessa gente, não têm o poder soberano estatal de outrora. É uma percepção que o brasileiro mediano não tem porque não estuda adequadamente, não lê nem critica as notícias que recebe. Mesmo assim, de um impacto inacreditável. Fantástico! O perigo: republicanos vão ganhar as eleições nos EUA. Acabarão favorecendo ainda mais os gananciosos liberais? Que merda!

              5 - Não estou cético mas estou atento. Que a porrada coma mas que saibamos o que pôr no lugar deste genocídio especulativo antes que aventureiros venham com  mais demagogias que as petistas que nos governam hoje. Não é simplesmente estatizando o que é privado. Antes de mais nada, o rumo do mundo é a coletivização local, a minoria ativa, a desconcentração e a manutenção das liberdades conquistadas que não inclui, obviamente, a de ter uma propriedade privada infinita sobre o expurgo do trabalho de bilhões.   


    

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